sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Feliz natal

Yeshua ben Youssef, segundo estudos, nasceu provavelmente em um mês de Agosto entre os anos 6 e 7 antes da era Cristã. O dia 25 de dezembro como natalício de Jesus surgiu por decreto do Papa Julio I, no ano 350, em substituição às festividades pagãs ligadas ao solstício de inverno e a adoração ao deus-sol.
Sabe-se lá de quantas formas diferentes o natal foi comemorado estes anos todos pelas mais diversas culturas cristãs. O que se sabe é que hoje, na maioria dos casos, ele está na mesma semântica que peru de natal, Papai Noel e árvore de natal. Provavelmente cada um destes costumes tem um simbolismo próprio que, confesso (provavelmente fazendo coro com a maioria das pessoas), desconheço. Sem mencionar o consumismo ensandecido que transforma qualquer centro comercial em uma sucursal do inferno (ainda mais nesta canícula superlativa de Rio de Janeiro).
Todo este contexto me leva à mesma reflexão que fiz no post sobre o carnaval (fina ironia). Cada vez mais fico convencido que todo mundo comemora o natal porque todo mundo comemora o natal.
***
Uma imagem forte, para mim, é a do presépio. Formulada por Francisco de Assis, ela mostra aquele que nós cristãos reputamos ser o maior avatar que este mundo já viu rodeado por sua família, pelos três reis magos e pelos animais da estrebaria que os abrigava. O Senhor da Vida no seu Império, que é o da simplicidade, cercado por tudo aquilo que realmente tem mais valor: família, amigos e natureza. Contudo, é uma imagem já bastante em desuso, salvo pelos que ainda crêem na mensagem que encerra.
Jesus, para mim, tem relevância pelo seu imensurável contributo no que tange ao despertamento do Homem para as verdades espirituais e é bem certo que a lembrança dele e de sua mensagem não deve ficar restrita a um dia do ano, mas a todos os dias de nossas vidas a fim de que possamos um dia lograr uma consciência tão em comunhão com o Criador como a dele.
Feliz natal a todos!

"Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo." (S. Mateus, 11:28 a 30)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A vida é um pisca pisca.

"A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama. Pisca e anda. Pisca e brinca. Pisca e estuda. Pisca e ama. Pisca e cria filhos. Pisca e geme os reumatismos. Por fim, pisca pela última vez e morre.

– E depois que morre? – perguntou o Visconde.
– Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?"

À hipótese mais querida e certa, o meu carinho e saudade nesses 5 anos sem o aconchego do abraço e o sorriso contagiante.
Te amo, meu pai.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Bilionários por acaso


Acabei de ler BILIONÁRIOS POR ACASO – A CRIAÇÃO DO FACEBOOK, uma história de sexo, dinheiro, genialidade e traição, de Ben Mezrich - livro que inspirou o filme A REDE SOCIAL, de David Fincher, que estréia hoje.
Fui atraído pela história justamente após assistir o magnífico trailer do filme. Conheço muito pouco do Facebook e de sua história pois, como todo bom brasileiro, o meu site de relacionamento original foi o bom e velho Orkut e ultimamente meu interesse pela vida virtual tem se restringido ao Twitter e a este espaço. Acho até bacana a idéia de redes sociais, mas acho que cuidar de todas elas do jeito apropriado demanda um tempo que não gostaria de perder. Talvez seja falta de visão minha, mas prefiro acreditar que seja uma questão de prioridade. Desta forma, sabia muito pouco sobre o Facebook e muito menos sobre a história de sua criação. Não é novidade que sexo, dinheiro, genialidade e traição estejam geralmente ligadas a criações de empreendimentos do porte do Facebook, ainda mais quando os responsáveis são universitários ambiciosos vindos de Harvard que descobrem uma mina de ouro meio que “por acaso”. Além deste contexto clichê (porém sempre irresistível), lendo o livro, fica óbvio perceber que a sua adaptação cinematográfica era uma questão de tempo, não só por isso, mas principalmente por dois motivos: a habilidade narrativa de Mezrich e um “personagem” tão excêntrico quanto enigmático (e não menos polêmico) como Mark Zuckerberg, o gênio nerd de 26 anos, dono e “inventor” do Facebook.
Mezrich, jornalista, já é veterano em ter obra sua adaptada pro cinema. A primeira foi BRINGING DOWN THE HOUSE que originou o excelente filme QUEBRANDO A BANCA, com Kevin Spacey, sobre um grupo de jovens gênios da matemática que fizeram fortuna contando cartas em Las Vegas. Contudo, BILIONÁRIOS POR ACASO, não é um texto eminentemente jornalístico ou biográfico. A idéia, aqui, parece ser: antes de informar, entreter. E a narração dos fatos ganha uma versão romanceada. Tem até narrador onisciente. Logo no início, Mezrich faz esta advertência ao leitor, informando que fez inúmeras adaptações à história que investigou e que, inclusive, tomou a liberdade de acrescentar e/ou modificar elementos, principalmente quanto a detalhes como a descrição de ambientes. Relata ainda que, em nome de uma maior fluidez, recriou e adaptou diálogos, entretanto respeitando-lhes a essência. E é realmente impressionante a sua capacidade de mesclar ficção (aquilo que imaginou) e realidade (o que realmente aconteceu), claramente tampando os buracos dos fatos não só com boas sacadas de descrições de ambientes como também com os prováveis sentimentos dos personagens, o que realmente dá vida à história, além de nitidamente, em certos momentos, adaptar uma situação ou outra para que a narrativa tenha ritmo e agilidade. É curiosa e esperta a forma com que começa cada capítulo. Sempre jogando o leitor um pouco adiante na história a fim de causar uma certa estranheza e curiosidade iniciais, para, em seguida, retornar e explicar como se chegou até ali, além de encerrá-los sempre com o clássico gancho para o que virá a seguir.
No fim, o que se tem é uma trama de negócios, traição e até certo suspense, com um ar jovem, quase teen, que entretém como se fosse um grande exemplar de ficção do gênero. Talvez uma crítica pertinente seja justamente a de que o livro privilegia o entretenimento em detrimento da informação, o que pode levantar dúvidas sobre a sua credibilidade. Entretanto, com uma história dessas nas mãos, com todos os elementos clássicos de histórias de ficção sobre grandes corporações, creio que eu também não hesitaria em retratá-la como tal.
Em relação a Zuckerberg, Mezrich também informa no início do livro que ele recusou-se a dar depoimentos, o que contribui ainda mais para a aura de mistério que o cerca. Tudo o que sabemos sobre ele é a forma como cada um o percebeu em cada situação ou um juízo de probabilidade do autor de como ele se sentiu neste ou naquele momento. Zuckerberg é inicialmente apresentado como o cara sempre indecifrável, nerd anti-social convicto, econômico nas palavras e aparentemente nos sentimentos e dono de um senso de humor cáustico que acha tudo “interessante”. Por vezes deixava escapar um certo brilho no olhar um tanto indefinível em situações específicas, mas não mais que isso. Definitivamente, seu principal trunfo, que lhe permitiu iniciar seu projeto ambicioso com certo conforto, ainda que de forma eticamente duvidosa, foi justamente a leitura equivocada que as pessoas comumente faziam dele, provavelmente confiando em sua aparência inofensiva e talvez um tanto frágil, quase que subestimando-o (o que fica claro no episódio com os irmãos Winklevoss e o HarvardConnection/ConnectU). Não contavam que ele fosse astuto, conhecesse como poucos os desejos das pessoas quanto aos seus relacionamentos sociais e, mais do que tudo, que ele fosse detentor de uma determinação monumental para levar o seu projeto de revolução virtual adiante. Determinação essa que, ao que tudo indica, arruinou a sua amizade com o economista brasileiro e amigo de Universidade, Eduardo Saverin, colaborador de primeiríssima ordem (com uma importante viabilização financeira) do projeto. Vale lembrar que Saverin foi um dos principais colaboradores de Mezrich em suas pesquisas, o que pode ser um indício dos motivos de Zuckerberg em recusar-se a falar com o jornalista. Pode soar paradoxal que alguém aparentemente com tanta dificuldade em lidar com pessoas seja justamente o idealizador e dono da rede social mais famosa do mundo, entretanto, este é um fator que comprova de maneira ainda mais contundente a sua genialidade. Li uma declaração sua em que ele diz que não fez o Facebook para ser aceito socialmente, mas pelo prazer de criar algo legal. E, pelo que vejo, ele fez, sim, a sua revolução. Mezrich chega a apostar que chegará o dia em que o Facebook desbancará o Google. Quem viver, verá.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Up and coming

Apesar dos pesares, este não é um blog de cinema. Também o é, mas n ão só. É uma mistura de querido diário, diazepam e mensagem na garrafa lançada ao mar. Uns mais e outros menos, não necessariamente nesta mesma ordem.
Eu fui no show do Paul McCartney. Foi uma mistura de tanta coisa. Estava longe, mas ver aquele pequeno ponto azul surgir no palco acenando com um spotlight só para ele me emocionou. Finalmente pude entender o que sentem menininhas em seus faniquitos juvenis, mas de uma forma comedida, claro, porque tenho uma reputação a zelar. Eu estava no show de um dos caras que revolucionou a música mundial. Eu ouviria (e veria) ao vivo as músicas que eu ouço desde criança. A voz dele não sairia da gravação de uma fita cassete, de um cd ou de um arquivo digital. Sairia da garganta dele, só um tanto amplificada por aparelhos de som ultrapotentes (mas isso é só um detalhe). Quando All my loving ecoou pelas arquibancadas do Morumbi, foi como voltar há quarenta anos e estar diante da histeria coletiva que era um show dos quatro rapazes de Liverpool, dos reis do iê iê iê (iê iê iê é muito engraçado). Lembrei de tanta gente e de tanta coisa que eu não vivi.
- Em dado momento, um ambulante passa gritanto “Olha a breja!” Todos mandam ele calar a boca.-
Let it be. Eleanor Rigby. Give peace a chance. Yesterday. Foram as que mais me emocionaram.
Fiz o videozinho de um trecho de “Yesterday” para eu ter quando quiser lembrar e para dividir com vocês. Reparem que lindo 64 mil pessoas cantando (exceto para os desafinados perto de mim, claro).

Agradecimento ao meu primo Rodrigo, sem o qual estes momentos não teriam sido possíveis.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

As cartas psicografadas por Chico Xavier


Conta-se nos arraiais espíritas que, certa vez, o ilustre Bezerra de Menezes estava proferindo uma conferência, salvo engano na Federação Espírita Brasileira no Rio de Janeiro, quando foi interrompido por uma pessoa da plateia que, dizendo-se materialista, desafiou-o a participar de um debate em que, desde já, comprometia-se o desafiante a desmascarar as fraudes do Espiritismo. Bezerra, então, calmamente, teria aceitado o desafio, mas impôs uma condição: que o sujeito levasse ao debate ao menos uma pessoa entre "aqueles que o Materialismo tenha socorrido no mundo". Diz-se que o sujeito abaixou a cabeça e não contra-argumentou.
Esta passagem normalmente é utilizada para ressaltar a robustez dos princípios da Doutrina Espírita, como se o mero fato de a mesma confortar certas inquietações humanas ancestrais (medo da morte, saudade dos entes queridos que morreram) a conferisse status de verdade absoluta. Diga-se que o próprio Kardec se utiliza desta técnica argumentativa em sua obra “O céu e o inferno – ou Justiça Divina segundo o Espiritismo” quando, no capítulo I, entitulado “O porvir e o nada”, sustenta, em síntese, que a teoria da individualidade antes e depois da morte é mais apropriada do que a teoria do nada e a da absorção por que mais confortante. Entretanto, a mesma razão tão enaltecida por Kardec em seus escritos nos inclina rapidamente a perceber que algo não é verdadeiro pelo simples fato de ser bom. Creio tratar-se de uma falha argumentativa conhecida como petitio principii, que é a que ocorre quando se pressupõe como verdadeiro no argumento justamente o princípio que deveria ser provado pelo mesmo. Se não houver vida após a morte, o fato de alguém acreditar nesta teoria pelo simples fato de ela ser reconfortante não a fará verdadeira. Milhares de crianças acreditam em Papai Noel, entretanto, pelo que se saiba, infelizmente, o bom velhinho não existe. Eu creio na veracidade da Doutrina Espírita muito mais pelas minhas experiências de vida e meus estudos a respeito do que por simplesmente ser confortado por ela. Entretanto, que seus postulados confortam, isso é indubitável. E é justamente este aspecto que o filme AS CARTAS PSICOGRAFADAS POR CHICO XAVIER busca enfocar. O filme não tem por objetivo atestar a veracidade ou falsidade das cartas, muito menos fazer proselitismo ou atacar a Doutrina Espírita, mas simplesmente mostrar os dramas humanos por trás das famigeradas missivas. Basicamente, é um filme sobre memória, saudade e afeto. Sobre mães e filhos, amor e perda. Nesse sentido, é emblemática a opção da diretora por, em algumas cenas, ler em off as cartas dos filhos mortos tendo por imagem o local (poltrona, cadeira, sofá) onde os pais deram seus depoimentos, só que vazios. Além de ambientar o espectador no espaço do entrevistado, aproximando-os, provoca uma reflexão acerca da dicotomia ausência/presença. Enquanto os pais estão, os filhos não estão e vice-versa. Em outros momentos ela opta por filmar os manuscritos originais, que são manuseados pelas próprias mães destinatárias das cartas, o que nos remete não só ao carinho com que as mesmas guardam os escritos (a maioria deles recebidos há quase trinta anos), mas principalmente à dor que sentem pela morte de seus filhos. Sim, mesmo depois de quase trinta anos, fica nítido o quão traumática foi a experiência para cada uma delas. As mensagens, é bem verdade, tem muito em comum. A maioria dos filhos demonstra preocupação com o estado emocional das mães, dizem das belezas indizíveis dos lugares onde agora se encontram (dois deles demonstram vontade de desenhar para expressar o que as palavras não dizem) e fazem belas e emocionadas elucubrações filosóficas sobre a vida e a morte. Alguns podem torcer o nariz para as inclinações poéticas dos remetentes, mas isso me levou a pensar em o que eu escreveria para a minha mãe caso estivesse morto e a visse sofrendo. Sem dúvida, eu também importunaria o Chico para que, em vez de uma carta, eu pudesse fazer uma pintura para ela.
Os missivistas aproveitam também para mandarem recados específicos para um e outro parente e darem notícias de outros que já estavam do lado de lá, o que é bastante impressionante, uma vez que todas as mães são unânimes em afirmar que não havia como o médium ter acesso àquelas informações.
É bem verdade que se pode questionar sobre a real eficácia terapêutica das cartas. Muitas daquelas senhoras não se contentaram em receber somente uma carta e somente através de Chico Xavier, o que pode evidenciar justamente um apego cada vez maior à perda e ao luto. Entretanto, não tenho cabedal para ficar julgando se umas dores são maiores que as outras (principalmente a dor dar perda de um filho), e muito menos para elucubrar sobre qual seria o efeito terapêutico mais desejável. No fim das contas, o que fica nítido é que provavelmente sem aquelas cartas tudo poderia ter sido muito pior para elas.
Cristiana Grumbach faz um trabalho bastante delicado na direção, além de revelar-se uma entrevistadora sensível e atenta, com o mesmo respeito ao entrevistado e ao momento da entrevista de seu indubitável mestre Eduardo Coutinho.
No folder de divulgação do documentário, Cristiana publicou um belo texto que é bastante revelador quanto à alma do filme, que passo a reproduzir:
“Esse não é um filme autobiográfico, não participo dele na condição de alguém que viveu história semelhante. Tiver perdas de pessoas queridas, como quase todos, mas essas histórias não fazem parte do filme.
“Ao mesmo tempo, nesse filme está o encontro com a mãe que me tornei ao longo de sua realização, com ele estou aprendendo esse amoroso ofício. E dedico o filme à minha mãe, alguém que me fez pensar sobre a vida e a morte a cada instante.
“Aprendendo a ser mãe, escrevendo uma nova história com a minha mãe que hoje vive em mim e em meus filhos – assim é que este filme me fala. E com ele quero ligar os elos que nos fazem corrente de vida, sem ponto. Cristiana Grumbach”

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Uma ou duas palavras sobre: Xavier Dolan.


Xavier Dolan é canadense, 21 anos, e diretor de dois filmes: EU MATEI MINHA MÃE (2009) e AMORES IMAGINÁRIOS (2010). O terceiro, que segundo a wikipedia contará a história de um transexual, está previsto para estréia em 2012 e tem o título provisório de LAURENCE ANYWAYS.
Dele, assisti primeiro AMORES IMAGINÁRIOS na repescagem do Festival do Rio deste ano e devo dizer que foi uma gratíssima surpresa. Cheguei a ensaiar um texto a respeito, mas acabei não concluindo por razões que ainda me são obscuras, pois o filme possuía méritos inquestionáveis para serem comentados aqui.
Xavier Dolan não só é o diretor destes dois filmes, como escreveu o roteiro e ainda atuou. Logo, não é à toa que vem causando frisson nas mais importantes premiações internacionais. Devo dizer: com a despretensão de um autêntico gênio, o rapaz conseguiu construir obras lindíssimas do ponto de vista visual (o seu apuro estético é algo estarrecedor para alguém de tão pouca idade) com roteiros simples, mas muito bem construídos. Não fala do que não entende. Pelo contrário, o seu filme de estréia, EU MATEI A MINHA MÃE, tem visíveis e confessadas cargas autobiográficas. Homossexual, também não deixa de relatar seus dramas e decepções, entretanto, sem panfletos ou qualquer tipo de apelação ou estereotipação.
EU MATEI A MINHA MÃE conta a história do jovem Hubert, de 17 anos, que vive uma relação para lá de conturbada com a sua mãe, Chantale. Poderia ser um filme banal e ingênuo sobre conflitos de gerações, mas é um competente estudo de personagens. Como não poderia deixar de ser, flerta com a comédia com leveza, mas deixa bem claro que o que busca retratar é o drama da dificuldade de comunicação entre duas pessoas que se amam, mas não sabem conviver com isso (num dos diálogos mais bonitos, após uma discussão, Hubert grita para ela raivoso com lágrimas nos olhos “O que você faria se eu morresse hoje?”, vira as costas e sai. Ela, então, sussurra baixinho sem coragem de dar o braço a torcer quanto a decisão que impôs ao filho, mas reconhecendo para si mesma com os olhos marejados: “Eu morreria no dia seguinte”).
AMORES IMAGINÁRIOS é uma comédia romântica. Narra a história dos amigos Marie (a ótima Monia Chokri) e Francis (Dolan) que tem sua relação abalada quando conhecem Nicolas, belo rapaz pelo qual ambos se apaixonam e passam a disputar a atenção, muitas vezes se sabotando mutuamente. O filme ainda é permeado de uma série de depoimentos aleatórios, mas bem humorados, num tom documental, sobre relacionamentos afetivos (destaque para a menina que lembra a Rossy de Palma, só que adolescente, de óculos e canadense, cujo depoimento abriga alguns dos melhores momentos da projeção – que Dolan a utilize mais vezes!) e possui muitas de suas marcas registradas já muito bem utilizadas no outro filme: câmera lenta em cenas de alguma emotividade extrema, cores fortes, pequenas inserções icônicas um tanto kitsch (pense na imagem de Nicolas, loiro feito um anjo sob uma chuva de Marshmallow brancos num fundo azul neste filme ou na mãe de Hubert fantasiada de santa chorando sangue, no outro) e uma trilha sonora muito peculiar e de excelente qualidade (será que é facilmente encontrável?) – exemplo disso é a versão de “Bang bang (my baby shot me down)” que embala o trailer desta produção.
É evidente que ainda é cedo para fazer previsões sobre o futuro de Xavier Dolan. O sujeito só tem 21 anos e possui somente 2 filmes nas costas (ok, há certa ironia na utilização destes “só” e “somente”), muita coisa ainda pode acontecer, claro, mas a julgar pelo talento e criatividade que o cara mostrou com tão pouca idade e em tão poucas obras, não é difícil prever o que virá por aí. Já na expectativa pelo novo filme do Xavier Dolan.

domingo, 31 de outubro de 2010

A suprema felicidade

Lembro da minha alegria ao saber que Jabor voltaria a filmar. Fã de suas colunas semanais no jornal “O globo” e conhecedor da sua reputação enquanto cineasta (sua adaptação para o cinema de TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA rendeu elogios carinhosos do grande Nelson Rodrigues – além de autor da peça teatral que originou a película, uma espécie de guru de Jabor. Sem mencionar o prêmio em Cannes para Fernanda Torres por EU SEI QUE VOU TE AMAR – reconhecendo-se que o diretor tem algum mérito quanto ao todo da obra), fiquei ansioso para conferir o que viria por aí. Posteriormente, descobri que a idéia era fazer uma obra com tons autobiográficos, que se passava no Rio de Janeiro dos anos 50 e 60 e que fosse justamente uma homenagem a esse Rio de Janeiro que, infelizmente, já morreu. Creio tê-lo ouvido numa entrevista dizendo que usaria como referência algumas colunas suas em que narrou alguns episódios pitorescos de sua vida, principalmente uma em que homenageou o seu mítico avô (que, inclusive, já rendeu letra e música de Nelson Motta para uma peça com Marília Pêra). Eu havia adorado essas colunas. A expectativa só crescia.
Tentei ver o filme no Festival, mas isto se tornou uma tarefa impossível. Então, sexta, dia da estréia, lá estava eu numa sala de cinema bem próxima de você para conferir A SUPREMA FELICIDADE. Já havia lido algumas críticas negativas e umas poucas positivas e decidi que me esforçaria por gostar do filme, justamente para, só de implicância, contrariar uns e outros. Entretanto, não consegui. Não que o filme seja um desastre completo, mas simplesmente não funcionou comigo.
O filme narra, de uma maneira nem sempre lógica, realista e linear, as experiências de Paulinho, desde a sua infância até sua juventude num Rio de Janeiro que eu só conheci das histórias que meu pai contava. São recortes de costumes, personagens da cidade (o pipoqueiro, o boêmio, o comprador de antiguidades) e, principalmente, de reflexões sobre a mediocridade e a felicidade. Tenho para mim que o grande problema deste filme está na montagem. Definitivamente tem algo a ver com uma falta de ritmo, de fluidez, com que o filme é narrado. A impressão que dá, após o término da projeção, é que o cineasta tinha uma série de cenas emblemáticas (e pitorescas) na cabeça (pense na seqüência em que o personagem dança com uma moça numa espécie de exposição fotográfica sobre ectoplasmia ou em outra, mais prosaica, em que, numa briga de casal, um mamilo é exposto - o que seria deveras pungente, mas a tal falta de “clima”, para mim, fez soar despropositada), mas não sabia como dar uma coesão dramática entre elas, às vezes colocando seqüências alegres próximas demais de outras mais reflexivas, e vice versa, o que diluía a força de ambas mutuamente. Vai ver era esta a intenção dele, entretanto, se foi, pelo menos para mim, o resultado não foi exatamente satisfatório. O que me leva a crer que possivelmente a “moral” do filme está em duas falas de Noel, o avô boêmio de Paulinho, interpretado pelo sempre carismático e competente Marco Nanini: “Nada é só bom” e “nada é só ruim”. Paulinho testemunha com tristeza e certo desprezo a decadência e a mediocridade da realidade que o cerca, mas aos poucos vai percebendo que não é impossível ser feliz depois que se cresce, só mais difícil (sim, esta frase eu tirei de AS MELHORES COISAS DO MUNDO). A felicidade deixa de ser algo ingênuo, para ser uma forma madura de entender o mundo. Aurea mediocritas?
Entretanto, o filme vale pelos diálogos (ok, em certos momentos forçadamente intensos e verborrágicos demais, mas definitivamente bons, o que não é nenhuma novidade já que estamos falando de Arnaldo Jabor) e principalmente pelas atuações: Marco Nanini, Mariana Lima, Dan Stubach, Elke Maravilha e Maria Flor estão todos perfeitos em seus papéis – destaque para Maria Flor que defende um personagem complexo que facilmente descambaria para um clichê vergonhoso não fosse ela tão surpreendentemente talentosa. O filme conta ainda com marcantes participações especiais de Ary Fontoura e Jorge Loredo (mais conhecido como Zé Bonitinho), como padres do colégio em que Paulinho estudou, e de João Miguel, como o pipoqueiro que só fala safadeza para a molecada. Jayme Matarazzo e César Cardadeiro, como os melhores amigos Paulinho e Cabeção, respectivamente, não me pareceram as melhores escolhas, mesmo rendendo bons momentos, como os passados numa praia, entretanto, reconheço, ambos possuem imenso potencial.
Por fim, Jabor por Jabor prefiro o de TUDO BEM ou o de EU TE AMO. AMARCORD por AMARCORD, tendo em vista que eu não assisti o clássico de Fellini, prefiro o nosso EU ME LEMBRO, de Edgard Navarro. Contudo, torço para que Jabor prossiga neste seu retorno ao cinema. É indubitável que ainda é uma mente inspirada e, acima de tudo, inspiradora.

domingo, 17 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro.

(AVISO: Alguns trechos deste texto podem ser considerados spoilers pelos corações mais sensíveis, mas minha opinião é de que nada que escrevi aqui compromete o impacto da obra, portanto, its up to you! Só não deixe de comentar. Antes ou depois de ver)

Preferi este TROPA DE ELITE 2 – O INIMIGO AGORA É OUTRO ao primeiro, o que não quer dizer que este seja ruim, pelo contrário, tenho as duas produções como exemplares do enorme potencial qualitativo do cinema brasileiro, ainda não muito explorado (mas bastante promissor).
Lembro do impacto que o primeiro filme me causou. Primeiramente pela coragem de remexer numa chaga purulenta e exposta como a questão da violência e da (in)segurança pública na cidade do Rio de Janeiro (retomando um pouco a discussão do excelente documentário NOTÍCIAS DE UMA GUERRA PARTICULAR, do qual TROPA parece ser (con)sequência) e segundo pela habilidade em conferir à produção um caráter quase documental, não só pelo realismo das cenas, como pela tentativa de se retratar a complexidade do real. Desta forma, somos apresentados ao já antológico Capitão Nascimento, no auge de sua forma enquanto comandante do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), uma espécie de Tropa de Elite da Polícia Militar do Rio de Janeiro, aparentemente não contaminada pela corrupção endêmica à qual a instituição parecia condenada. Nascimento, então em 1997 (ano em que o filme se passa), estava responsável por garantir a segurança e a paz na cidade quando da visita do Papa João Paulo II à mesma. Deste ponto de partida, que em si mesmo é uma ironia, uma vez que acaba (para usar uma expressão famosa do filme) “colocando na conta” do Sumo Pontífice (entidade que, ao menos em tese, deveria ser comprometida com causas humanitárias) uma série de desumanidades graças ao modus operandi do BOPE, segue-se as mais diversas discussões com temas que vão de corrupção e violência policial e relações do tráfico com a sociedade (mormente com as classes mais abastadas) a análise do comportamento humano tanto do personagem Capitão Nascimento como dos espectadores (ou será que é coincidência o fato de todos querermos a morte mais cruel para o traficante Baiano nos minutos finais da projeção?). Ao tentar mostrar “o lado da polícia” nessa guerra particular tráfico versus polícia militar (assistam o documentário, vale a pena!), cuja lógica interna de vingança experimentamos nós próprios nos minutos finais acima citados, o filme ainda foi taxado de fascista por um suposto enaltecimento do Estado Policial e do autoritarismo, o que é uma análise rasteira visto que o filme é justamente uma crítica a esta concepção.
Quando fiquei sabendo que haveria uma continuação, imediatamente pensei que se resumiria a uma tentativa do diretor José Padilha de se redimir frente às acusações de suposto propagandista do ideário fascista. Não sei por que tive esse pensamento, reconheço agora, pequeno, mas confesso que foi exatamente esperando por isso que entrei na sala de cinema. E fui novamente surpreendido. Alçando a discussão da segurança pública a outro patamar, Padilha conseguiu fazer um filme não só mais complexo como mais incendiário que o primeiro. Logo nos primeiros minutos somos lançados em uma sanguinária rebelião no complexo penitenciário de Bangu I seguida de um massacre perpetrado pelo BOPE a fim de reprimí-la, fatos que ditarão os destinos de todos os envolvidos dali em diante. O agora Capitão André Matias é retirado do BOPE, assumindo um cargo menor na PM, Fraga, ativista de direitos humanos que denunciou a violência da operação na mídia nacional e internacional, elege-se deputado e Nascimento (inicialmente já Coronel), num primeiro momento é exonerado da polícia pelo Governador, para aplacar a sanha da esquerda, mas, em seguida, é nomeado subsecretário de segurança pública, para agradar a classe média que aplaudiu o desfecho da malfadada operação. Nascimento, então, logo se dá conta de que os inimigos não eram os traficantes que ele mandava pro saco ou empalava com cabos de vassoura, mas os principais responsáveis pela penúria e corrupção na Polícia Militar e pela leniência e superficialidade nas políticas públicas de segurança, os políticos. Ao elevar o debate a esta instância o filme ganha em complexidade uma vez que agrega às questões do anterior as articulações político-eleitoreiras, a importância da mídia, a manipulação da opinião pública e o crescimento das milícias e sua cada vez mais íntima (e deplorável) relação com o poder instituído. Como li (e concordo), a cena em que Nascimento quase mata de porrada um deputado em um dado momento do filme é das cenas mais emblemáticas, por que catárticas, do cinema nacional. Aliás, que sirva de recado a estes agentes políticos, não a cena, mas como reagem as pessoas que a assistem. Fica a dica.
Se no primeiro filme, Wagner Moura, graças a seu incomparável talento, tornou o Capitão Nascimento em um dos mais conhecidos e cultuados ícones da nossa cultura pop, neste, o ator dá, mais uma vez, prova de sua monumental competência. No anterior, Nascimento era vigoroso, marrento, truculento, apaixonado por seu ofício, com o desafio de conciliar realidades emocionais tão díspares como uma invasão de uma favela e o nascimento de seu primeiro filho (sendo a cena em que ele escuta pelo celular, em plena missão de tomada de um morro, os batimentos do coração da criança numa sessão de ultrassonografia, uma das mais significativas disto). Neste, vê-se que ele certamente ainda mantém muitas daquelas características, entretanto, é evidente que está cansado. Ombros arqueados, uma angústia quase palpável, olhar mais perdido, tudo isso certamente fruto dos anos à frente de tarefa tão árdua, mas também, indubitavelmente de sua profunda incapacidade de lidar com aspectos de sua vida pessoal. Agora separado, sua ex-mulher está casada com um homem quase diametralmente oposto, ao menos em concepção de mundo (já que em termos da paixão com que exercem seus misteres, ambos são praticamente almas gêmeas) e seu filho, graças a este contexto, cresceu distante do pai, sendo o jiu-jitsu uma das únicas maneiras que os dois têm de se relacionar (o que é bastante revelador quanto a essência de Nascimento). Não bastasse isso, o personagem passa por um significativo processo de amadurecimento durante a narrativa, construindo um belo arco dramático que culmina com reflexões e declarações finais bombásticas como “A PM do Rio tem que acabar”.
Outra impactante surpresa é uma das grandes revelações do filme, já apontado como o possível maior vilão do cinema nacional, Sandro Rocha, que interpreta o Major Rocha da PM, mas também um cruel líder de milícia. Sou bastante suspeito para falar. Conheço Sandro desde criança e talvez minha opinião possa parecer parcial. Mas ouso dizer que não é, pois já percebi que é muito mais fácil eu me incomodar com um trabalho mal feito de uma pessoa que eu conheço do que com o de uma pessoa que eu não conheço. E posso dizer que Sandro em nenhum momento me envergonhou, pelo contrário, orgulhei-me de ver que ele soube aproveitar com genialidade talvez a maior oportunidade de sua vida para mostrar seu inegável talento, que eu já conhecia seja de momentos mais informais, quando ele divertia a todos no play de nosso prédio com suas impagáveis imitações, seja de suas primeiras experiências artísticas, como em sua peça de conclusão de curso na Casa de Artes de Laranjeiras, “Sangue no pescoço do gato”, de Fassbinder, que assisti, talvez nos idos de 1997.
Em resumo, por todos os seus méritos acima elencados, ao bater sucessivos recordes de bilheteria, cair nas graças de público e crítica, TROPA DE ELITE 2 – O INIMIGO AGORA É OUTRO já é um clássico do cinema nacional e, por isso, imperdível.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Festival do Rio - The end

Ao todo, assisti 14 filmes neste festival. Para quem, nos outros anos, quatro filmes era um recorde, até que este foi um desempenho admirável. Portanto, depois da última sessão dupla aqui relatada ainda assisti mais cinco filmes, que passarei, brevemente (juro), a comentar.

A REGATA (La Régate, Bernard Bellefroid, França/Bélgica/Luxemburgo, 2009)
Grata surpresa. A idéia era tentar assistir O ÚLTIMO SONHO DE PINA BAUSCH no Estação Ipanema numa sessão de horário próximo. Lá chegando, descobri que tal sessão era mais disputada do que eu supunha e estava lotada. Peguei a programação e fui olhar as sinopses dos filmes que estavam por começar e, de todos, este A REGATA me pareceu a melhor opção.
Narra a história de Alex (Joffrey Verbruggen), um rapaz de 15 anos, apaixonado por remo, esporte no qual se destaca, e que tem uma relação pra lá conturbada com o pai Thierry (Thierry Hancisse). Filmes de relação pai e filho tem o condão de me emocionar com muito pouco. Por mais que a minha relação com meu pai fosse diametralmente oposta à mostrada no filme, de alguma forma, reconheci muitos elementos dela ali. Talvez porque certas coisas de afetos e traumas sejam mesmo universais, em maior ou menor grau, mas eu divago.
O filme retrata uma relação doentia entre pai e filho. O pai é o sujeito fracassado que, com inveja da juventude e do sucesso do filho no remo, faz de tudo para sabotá-lo para, depois, secretamente, morrer de remorso. O filho é o menino que percebe o comportamento do pai, até se rebela contra ele, mas não consegue deixá-lo para não se sentir culpado. Tudo isso retratado de maneira muito sensível, com uma câmera privilegiando o excepcional desempenho dos atores e num ritmo que acentua a melancolia e a revolta de Alex. Verbruggen e Hancisse conferem a seus personagens uma credibilidade imensa seja nos momentos de embates (muitas vezes físico mesmo), seja nos momentos em que ensaiam algum afeto. É extremamente comovente uma cena em que Alex, tão desacostumado a demonstrações de carinho, ganha um presente singelo de seus amigos e se emociona de forma que deixa os mesmos surpresos pela desproporção da reação.

STONES IN EXILE (Stones in exile, Stephen Kijak, Reino Unido, 2010)
O filme retorna a 1972, quando os Rolling Stones, fugindo da excessiva carga tributária do Reino Unido, mudaram-se para o sul da França. Na verdade, a lendária mansão que abrigou a banda era só de Keith Richards, mas, pouco a pouco, todos foram mudando para lá para darem início à gravação do álbum “Exile on Main St.”, um dos mais aclamados da música mundial.
O filme é bacana, principalmente para os fãs da banda, por todo material de arquivo que apresenta. Em vez de mostrar os participantes dando seus depoimentos, como tradicionalmente se faz nos documentários, optou-se por ilustrá-los com fotografias da época, o que é uma solução interessante para a imersão na atmosfera de sexo, drogas e muito rock n´ roll que aquela temporada francesa foi.
Certamente os mais fãs da banda (o que não é o meu caso, mas por puro desconhecimento, visto que após vê-lo, entendi porque os caras são tidos como monstros sagrados do rock) sabem a preciosidade inestimável que é este filme, o que me dispensa recomendá-los. Desta forma fica a recomendação para aqueles que, como eu, não são tão profundos conhecedores da banda, para que entendam um pouquinho não só sobre a mesma, mas sobre uma época tão efervescente culturalmente quanto os anos 60/70.

A SOLIDÃO DOS NÚMEROS PRIMOS (La Solitudine Dei Numeri Primi, Saverio Constanzo, Itália, 2010)
Baseado no romance homônimo de Paulo Giordano (também responsável pelo roteiro junto ao diretor, Saverio Constanzo), esse filme narra a história de Mattia e Alice, personagens que, desde crianças, lidam com traumas que os tornam cada vez mais isolados da sociedade e cujas vidas inevitavelmente se cruzam em épocas diferentes. Apoiando-se numa idéia de sincronicidade, a história é dividida, basicamente, em três épocas distintas: Infância, adolescência e juventude dos personagens, se comunicando não somente quanto aos infortúnios acontecidos em cada época como também criando padrões que se repetem em diferentes épocas. Aos poucos vamos descobrindo as dores e os traumas de cada um e a razão da ligação tão forte que os une, tudo conduzido de uma maneira muito envolvente e terna. Sem dúvida, em termos de cinema, este foi dos melhores que vi no Festival.

29 PALMS (Twentynine Palms, Bruno Dumont, França/Alemanha, 2010)
Eu tinha a idéia de tentar ver pelo menos um filme das mostras específicas do Festival (A humanidade de acordo com Bruno Dumont, Essencial Skolimowski e Foco Argentina). Só não consegui ver um do Skolimowski. Confesso que esperava mais de um filme do Bruno Dumont. Nunca havia ouvido falar nele até este Festival e, quando fui procurar, li boas recomendações de fontes confiáveis. O que ficou deste filme, para mim, foi, ok, uma grande competência para o uso da câmera (o cara, obviamente, sabe filmar – sim, existem auto-proclamandos cineastas que não sabem) e um ensaio sobre uma variante do conceito de risco e sobre a aleatoriedade da violência humana.

O ÚLTIMO SONHO DE PINA BAUSCH
(Tanzträume – Judgendliche Tanzen “Kontakthof” von Pina Bausch, Anne Linsel, Rainer Hoffman, Alemanha, 2009)
A primeira vez que dança fez sentido para mim, enquanto arte, foi justamente com um trecho de uma peça de Pina Bausch, consagrada dançarina e coreógrafa alemã, que o Almodóvar escolheu para abrir FALE COM ELA. Era um trecho de Café Muller, uma das peças mais famosas de Bausch. Até então, eu via dança apenas como mero espetáculo visual, sem muito envolvimento emocional. Depois de Café Muller, isto mudou.
Neste documentário é mostrado todo o trabalho de montagem de uma de suas peças com adolescentes que nunca haviam tido qualquer experiência com dança, no que provavelmente foi um de seus últimos trabalhos, visto que, infelizmente, ela faleceu em meados do ano passado. É muito bacana ver toda a evolução do grupo, o crescente envolvimento afetivo-emocional deles entre si e com o trabalho e, principalmente ter um pouco mais de contato com essa personalidade ainda tão pouco conhecida por mim (só a tinha visto dançando, mas nunca falando, interagindo com as pessoas – por mais que ela apareça tão pouco é inegável que suas aparições são, graças ao seu carisma, alguns dos pontos altos do filme). Fechou o Festival com chave de ouro.

sábado, 2 de outubro de 2010

O Festival e eu (III)

Uma coisa que descobri depois da minha última orgia cinematográfica neste Festival foi que três filmes ou mais no mesmo dia, para mim, simplesmente não dá. Fico admirado de ver pessoas que tiram o dia para verem filmes. Verdadeiros maratonistas. Eu, depois do terceiro filme, estava até meio desorientado, queria mesmo ir para minha casa e fazer qualquer outra coisa que não se assemelhasse a ver filme.
Entretanto, depois da overdose, veio a crise de abstinência. E ontem, parti para mais uma sessão dupla.
O primeiro filme foi MONSTROS (Monsters, Gareth Edwards, Reino Unido, 2010). Como vem sendo bastante recorrente neste Festival, o diretor do filme estava presente na sessão. Não sei se porque nos outros anos eu não fui tão assíduo quanto neste, ou se realmente desta vez a organização do evento se esmerou mais em trazer os realizadores, mas fato é que este já é o quarto filme que vejo, que conta com a presença de algum membro da produção. Acho isso bem bacana principalmente por dois motivos: o primeiro, mais genérico, pela visibilidade que confere ao Festival, cada vez mais sólido e tradicional; o segundo pela possibilidade de troca com os espectadores. Basta dizer que, sem este encontro, eu provavelmente não saberia que os únicos atores do filme eram os dois personagens principais e que os excelentes efeitos visuais não foram feitos por nenhum grande estúdio, mas, nas palavras da tradutora (não me recordo da expressão original em inglês usada pelo diretor), “feitos em casa”, o que, no decorrer da projeção, revelam-se informações impressionantes.
A premissa do filme é interessante. Após a descoberta de vida em um determinado planeta, a NASA envia uma sonda a fim de recolher amostras para pesquisa. Algo dá errado e, em seu retorno, a sonda cai em território mexicano. Os seres alienígenas, então, proliferam-se na região, que passa a se chamar Zona Infectada e esta passa a contar com um forte aparato de segurança, principalmente por ser exatamente a zona de fronteira com os EUA. Andrew Kaulder (Scoot McNairy), um jornalista fotográfico, é enviado para uma região próxima para resgatar Sam (Whitney Albe), a filha do dono da revista para a qual trabalha.
Logo nos eletrizantes minutos iniciais vemos um comboio do exército americano (com um soldado entoando “Cavalgada das Valquírias”, evocando o clássico personagem de Robert Duvall em “Apocalypse Now”) seguindo pela Zona Infectada e sendo atacado por uma das gigantescas criaturas. Era, principalmente, os home made (será que foi essa expressão?) efeitos visuais dizendo ao que vieram. Daí em diante, o filme passa a apresentar os personagens e a trama. Tanto McNairy quanto Albe estão excelentes, ele no papel do jornalista fotográfico fanfarrão e sedutor, e ela no de filha de pai rico insatisfeita com os rumos de sua vida. Como dito, a missão dele é levá-la em segurança de volta aos Estados Unidos, só que como todo bom fotojornalista que vive na pindaíba, ele decide também aproveitar a oportunidade para ver se consegue fazer seu pé de meia com algumas imagens das tragédias (como ele diz em dado momento, imagens de crianças mortas valem alguns milhares de dólares e de crianças felizes não valem nada). Alguns imprevistos acontecem e a única maneira deles chegarem aos EUA é atravessando a Zona Infectada por terra.
Um dos grandes problemas do filme é não saber exatamente qual filão explorar, ou talvez querer conferir uma complexidade à situação, sem, entretanto, mostrar-se suficientemente maduro para tal. Quando mencionei que os primeiros minutos serviam principalmente para os efeitos visuais dizerem ao que vieram, foi porque o tipo de filme que insinuam é completamente diferente do que se vê em seguida. Não é propriamente um filme de ação, a metáfora zona de fronteira/zona infectada parece não evoluir deste trocadilho e a alternativa “filme de ET”, aventada quando das primeiras aparições dos bicharocos, é abandonada logo em seguida, restando apenas a possibilidade de que desde o início a idéia era a de um filme sobre romance em situações adversas. Ficamos sem saber também o que diabos Sam fazia naquele lugar, por que seu pai milionário não mandou um jatinho fretado para buscá-la, por que não recorreram à Embaixada quando do sumiço de um dos passaportes, tendo em vista que a situação fora da zona infectada parecia razoavelmente controlada e ainda, para quê tanta atenção a uma atadura no braço de um dos personagens se, ao final, a lesão (cuja origem também não é explicada) mostra-se irrelevante para a história.
Mesmo assim, o filme possui alguns méritos. Além da boa atuação dos únicos atores, já mencionada, e dos efeitos especiais, o filme consegue entreter criando uma boa atmosfera de tensão e também graças à boa química do casal principal.
O filme seguinte foi LA CASA MUDA (La casa muda, Gustavo Hernández, Uruguai, 2010). Descobri-o meio que por acaso na internet há uns meses e fiquei acompanhando para saber se iria estrear em algum momento. Ficou famoso não só por ter custado somente 6.000 dólares mas também por ser todo filmado com uma câmera fotográfica comum em forma de plano-seqüência (sem cortes). Segundo li na internet, a história é inspirada em um crime bárbaro ocorrido na década de 40 em que dois corpos foram encontrados mutilados em uma casa em um local isolado no Uruguai sem que se tivesse qualquer pista do assassino e muito menos das motivações.
O filme, então, acompanha, em tempo real, o terror vivido por Laura e seu pai Wilson ao descobrirem que não estão sozinhos na casa abandonada (e isolada) que foram encarregados de reformar.
Explorando habilmente a máxima dos filmes do gênero de que o que realmente assusta é aquilo que não é mostrado, o filme é extremamente eficiente ao construir uma atmosfera de absoluto terror. A casa abandonada em questão além de aparentemente não ser aberta há, pelo menos, uns cem anos, devido ao seu mobiliário antigo e estado precário de conservação (leia-se produção de arte indefectível), não conta com energia elétrica, o que obriga toda a ação a se passar em uma escuridão parcamente iluminada por lanternas e velas trazidas pelos personagens.
O filme caminha bem até um pouco antes do final, quando os mistérios começam a ser revelados. Se nos primeiros momentos, a idéia era a de uma concepção realista dos acontecimentos, aos poucos isto vai sendo abandonado, o que levou a platéia da sessão em que eu estava aos risos em algumas sequencias envolvendo uma boneca e outras envolvendo uma máquina Polaroid (justiça seja feita, uma das cenas mais aterradoras da projeção tem justamente a ver com a Polaroid, num contexto que me lembrou um pouco, mutatis mutandis, esta cena de O SILÊNCIO DOS INOCENTES).
O opção pela câmera fotográfica, além de representar talvez o principal motivo do baixo custo da produção, favoreceu-a justamente devido aos seus limitados recursos que somente possibilitam um enquadramento menos abrangente. Isto, além de conferir um clima claustrofóbico, realça, como dito, o lado misterioso da escuridão, uma vez que nos leva a pensar nos perigos que estão fora de quadro. Quando fiquei sabendo desta proposta, imaginei que a câmera seria subjetiva, à la A BRUXA DE BLAIR, mas não era, salvo nos minutos finais, cuja transição é bastante hábil e sutil.
Por fim, a idéia de fazer todo o filme em um plano-sequência, revela-se desnecessária (para não dizer puro exibicionismo, tendo em vista as inúmeras dificuldade que este recurso enfrenta), uma vez que para sentir-se terror em tempo real a presença, ou não, de cortes é irrelevante. Ainda assim, é um filme recomendável.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Festival e eu (II)

Acompanho o Festival há alguns anos e sempre considerei escolher filmes na extensa programação divulgada uma tarefa difícil. Que filmes priorizar? Os blockbuster que depois estrearão em circuito de qualquer forma? Os obscuros de origem duvidosa, mas com sinopse interessante e prêmios internacionais na bagagem? Nessa escolha de Sofia eu acabava tentando me dividir um pouco entre uns e outros, e quando me dava conta, eu tinha visto mesmo os blockbuster de circuitão, salvo raras exceções.
Este ano está sendo o primeiro em que resolvi ousar, confiando mais na minha intuição. A neura de que só eu estou perdendo os melhores filmes do festival e que todo mundo está super antenado e super por dentro das boas, continua aqui, mas estou conseguindo controlá-la pesquisando um pouco aqui e ali, ouvindo opiniões, por que ninguém é de ferro, e definitivamente não é a minha intuição exatamente o que há de mais infalível na face na Terra.
Comecei o dia de ontem com BURACO NEGRO (L´autre monde, Gilles Marchand, França/Bélgica, 2009). Foi tiro no escuro (ops!) total. A sinopse na internet parecia interessante e as fotos de divulgação razoáveis (muito embora eu tenha aprendido que nem sempre as fotos de divulgação do site do festival seguem o padrão da fotografia do filme, o que já me acarretou algumas decepções). Escolhido o filme pela capa, lá fui eu conferir a precisão do meu palpite.
Logo na seqüência inicial, uma cena noturna em uma realidade computadorizada em que uma mulher se atira do alto de um prédio cortando, numa espécie de raccord, para uns rapazes pulando na água de um trampolim num dia ensolarado no “mundo real” (tudo isso ao som de uma trilha sonora que me remeteu a Angelo Badalamenti e seus trabalhos com David Lynch), pensei: promete! Impossível não ficar seduzido, conjecturando sobre a relação entre os dois universos com uma introdução tão impactante. Meu palpite estava funcionando.
A partir daí somos introduzidos à trama principal: Gaspard, jovem francês de férias no sul da França descobre um celular perdido e, instigado pela namorada, Marion, resolve investigar a vida de sua bela e misteriosa proprietária, Audrey, uma moça com tendência suicidas. Permeando tudo, há o jogo de realidade virtual “Black Hole”.
Misturando computação gráfica com película e alternando eficientemente as duas realidades, o filme funciona muito bem na construção de um universo que vai se mostrando cada vez mais instigante e perigoso. A bela Louise Bourgoin encarna uma irresistível femme fatale e o mundo virtual do tal jogo, além de belissimamente construído, evoca claramente o noir, o que me remeteu inúmeras vezes a “Sin City” e a “Mulholland Drive” – este especificamente numa cena em que um dos avatares canta um determinada música, que me lembrou muito o surreal “Club Silencio”.
Entretanto, todo esse clima de mistério tão meticulosamente construído é bastante comprometido na parte final devido a falhas do roteiro. Algumas pontas ficam soltas, as soluções para as tramas são fracas e personagens antes aparentemente complexos revelam uma frustrante superficialidade. Contudo, ainda considero uma experiência válida.
Depois, por recomendação, fui assistir LÍBANO (Lebanon, Samuel Maoz, Alemanha/Israel, 2009), vencedor do Leão de Ouro em Veneza em 2009. O filme se passa quase que inteiramente dentro de um tanque de guerra (o “quase que" se deve aos segundos iniciais e finais) durante a guerra do Líbano, de 1982, acompanhando a rotina dos quatro soldados israelenses que o tripulam.
Uma das coisas que eu tinha me esquecido a respeito do Festival do Rio é do protagonismo de algumas platéias de alguns filmes. Um tipo de comportamento também verificável nas lendárias maratonas de cinema do Cine Odeon. Lá pelas tantas o comandante da operação mata um civil a sangue frio (sim, o filme se passa todo dentro do tanque, mas o mundo exterior é engenhosamente mostrado do ponto de vista da mira do canhão). Eis que de repente, um senhor exalta-se na platéia e se põe a bradar em alto e bom som: Nazista! Nazista! Pensei: Ou ele não entendeu que a intenção da cena é justamente mostrar os absurdos da guerra (numa postura muito próxima daqueles que acham o nosso “Tropa de Elite” fascista), ou ele queria mostrar sua indignação contra o ato isolado chamando o soldado israelense justamente pela alcunha de seus algozes históricos devido a semelhança dos modus operandi. Eis que então, com razão, algumas pessoas protestaram mandando-o calar a boca, o senhor, então, não se fazendo de rogado, devolveu: Sionistas! Sionistas!. Aí percebi que a bronca dele era com os judeus mesmo e, mais ainda, que ele não tinha se dado conta que o resto das pessoas queria terminar de ver o filme sem ser importunado. O impasse se resolveu logo em seguida, creio que após alguma ameaça mais séria de algum outro espectador mais indignado. No mais, é um filme de guerra que, como todo filme do gênero, ressalta todo o absurdo e toda desumanidade da guerra, colocando seus personagens em uma situação limite tanto física quanto psicológica. O diferencial, aqui, portanto, é justamente a sua proposta claustrofóbica de centralizar toda a ação dentro de um tanque de forma que quase dá para sentir o cheiro de urina e sangue que se entranha lá dentro.
Pelos meus planos, LÍBANO seria o meu último filme do dia, só que descobri que minutos após o final de sua sessão, no Espaço de Cinema (eu vi LÍBANO no Estação Botafogo, quem conhece sabe da proximidade), passaria o filme 2012: TEMPO DE MUDANÇA (2012: Time for changes, João Amorim, EUA/Brasil/França/México/Suíça, 2010), um documentário que eu tinha visto que teria depoimentos do Sting, do David Lynch (tô gostando da idéia de citá-lo duas vezes nesse post), da Ellen Page e do Gilberto Gil.
Imaginem um filme que tenta relacionar calendário maia, experiências psicodélicas, meditação, e meio ambiente. Não, não é um filme de apologia à maconha, embora tenha ares de filme “bicho-grilo”. Na verdade, a parte da meditação, das experiências psicodélicas e do calendário maia são mais um ponto de partida para uma reflexão acerca da relação do ser humano consigo próprio e com o ambiente em que vive. Indo na contramão das perspectivas apocalípticas (a propósito “apocalipse” é uma palavra de origem grega que, na verdade, significa “revelar, levantar o véu”), com apoio em depoimentos de descendentes diretos dos maias e de outras nações indígenas antigas, o filme sustenta, que, na verdade, o fato de o calendário maia terminar em 2012 não significa que o mundo irá acabar, mas sim a inauguração de uma nova era para a humanidade. A tese do documentário, se entendi bem, parece ser a de Daniel Pinchbeck, figura simpática que apresenta o documentário e autor de livros como “Breaking Open the Head: A Psychedelic Journey into the Heart of Contemporary Shamanism” e “2012: The Return of Quetzalcoatl”, que afirma que esta nova era refere-se justamente a uma maior espiritualização das pessoas, o que se refletirá em uma melhor relação do homem com a natureza, na medida em que proporcionará uma mudança nos valores, na política e na economia. Não crê em uma solução mágica, mas em atitude. O filme não se atém a discutir teses e teorias proféticas e mostra inúmeras comunidades auto-sustentáveis além de apresentar inúmeras soluções naturais que vem sendo descobertas e já utilizadas para problemas contemporâneos como vazamentos de óleo e poluição das águas e é, sim, um convite para repensarmos a nossa postura perante o mundo em que vivemos. É panfletário sem ser muito incisivo, parecendo se preocupar apenas em plantar boas idéias e reflexões.
Caramba! Ficou grande!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Festival e eu

Alguns comentários sobre os filmes que já vi neste festival. E vocês? O que têm visto? O que tem achado?

TODAS AS MÃES e A GENTE ACABA SE ACOSTUMANDO

Foram os primeiros filmes que vi no Festival, por sugestão do Rodrigo. A idéia era assistir somente “A gente acaba se acostumando”, mas chegando ao cinema, fomos surpreendidos pela informação de que seria uma sessão dupla. Ambos são documentários e parecem muito mais um especial para a televisão do que propriamente uma obra cinematográfica. O primeiro filme é sobre as mulheres sobreviventes do genocídio perpetrado contra a população curda no Iraque, pelo Sadam. Acompanha a rotina dessas mulheres, seu luto contundente e a esperança de, um dia, reencontrarem seus filhos e maridos desaparecidos já há pouco mais de 20 anos, mesmo depois da descoberta de inúmeros corpos em uma vala comum.
O segundo é sobre meninas iranianas vítimas de violência familiar, que vivem em um abrigo. Carência, ebulição hormonal, cultura de costumes rígidos, compõem ainda este mosaico contextual. Há a menina que tenta seduzir o entrevistador, a com tendências suicidas, a com síndromes mentais e a que narra as experiências mais escabrosas que viveu com o tom de voz de quem conta história de ninar. O filme é bacana mais pelo painel humano que exibe do que por seus méritos enquanto documentário.

NOSSA VIDA EXPOSTA

O primeiro filme realmente bacana que assisti, também um documentário. Aproveita a história de Josh Harris, um pioneiro na internet, para propor uma reflexão sobre a maneira como a sociedade humana vem se relacionando após o impacto da web em seus costumes.
A sessão teve a presença da diretora Ondi Timoner e ela contou que conheceu Josh quando ele a convidou para participar de um de seus projetos (chamado por ele de ‘experimento’) mais ambiciosos, chamado “Quiet! We live in public”. O projeto consistia em juntar pessoas em uma casa em Nova York (que, na verdade, era uma espécie de bunker) onde estariam constantemente vigiadas por câmeras. A idéia era que as pessoas não precisassem sair de lá para nada. Josh, à época um milionário da turma dos “pontocom”, bancaria hospedagem, alimentação e lazer para todo mundo em troca de (suas almas?) suas privacidades (quiçá sanidades). Ondi, que já havia trabalhado com Josh em seu projeto pioneiro de TV online (muito antes de youtube e afins), foi então chamada para fazer o registro da experiência. Ela conta que, ao final, o material que reuniu não pareceu consistente o suficiente para fazer um filme e acabou arquivando-o. Eis que um dia, percebendo o crescimento de facebooks, youtubes e outras mídias sociais virtuais, ela se deu conta do quanto Josh havia sido visionário. Ele sempre dizia que, com o avanço da internet, haveria não só uma imensa perda de privacidade, como as pessoas demandariam por isso em busca de reconhecimento, ou de meros de 15 minutos de fama. Desta forma, Ondi percebeu que aquele ‘experimento’ nada mais era do que uma espécie de reprodução física dos ambientes virtuais nos quais as pessoas tem se relacionado hoje em dia, expondo suas vidas, suas opiniões e sua privacidade por livre e espontânea vontade. Aproveitando esse gancho, decidiu reunir o material que já tinha, acrescentar mais algumas pesquisas e entrevistas e fazer o filme. Ah, sim, o filme faturou um prêmio de melhor documentário em Sundance, em 2009.

CÚMPLICES DO SILÊNCIO

Primeira ficção que assisti. A sessão também contou com a presença de um membro da equipe, o produtor e roteirista do filme, Rocco Oppedisanno. Trata-se de uma produção ítalo-argentina sobre os anos de ditadura militar naquele país. Com ares auto-biográficos, o filme narra a história de um jornalista italiano que vai para a Argentina a fim de cobrir o mundial de futebol de 1978 e, ao auxiliar a esposa de um amigo (e se envolver com a mesma), percebe a hediondez do regime vivido no país.
O contraponto do absurdo do regime ditatorial com a alegria popular proporcionada pela Copa (e a utilização desta alegria para acobertar o tal absurdo) faz deste filme uma espécie de irmão siamês do nosso “Pra frente Brasil”.
O filme começa soando um tanto canastrão com tomadas um pouco ingênuas demais, que aparentemente não confiam tanto na inteligência do espectador, mas tem momentos de profunda emoção como aquele em que um militar procura um familiar numa montanha de cadáveres. E ainda, ao preferir não mostrar mais explicitamente as cenas de tortura, fixando-se mais nos gritos de pavor e dor das vítimas e no terror psicológico perpetrado pelos terroristas de Estado, conseguiu-se, ao contrário do que possa parecer, transmitir de maneira bastante pungente todo desespero e revolta que deviam sentir as mesmas nas mãos das celeradas máquinas de torturar e matar, que eram alguns dos militares daquele período.

POLANSKI: PROCURADO E DESEJADO

O primeiro da listinha abaixo que assisti. Meu interesse por este filme se deu por conta deste texto do Pablo Villaça que não só recomendo como me serve de motivo para escusar-me ao trabalho de tecer maiores comentários sobre a produção, devido ao fato de as mais importantes informações sobre a mesma estarem lá. Só gostaria de reforçar a qualidade do documentário que, além de mostrar todo o problema judicial que o diretor enfrentou, ainda nos oferece imagens raras de entrevistas e da vida do diretor, que se tornou uma personalidade ainda mais instigante para mim. Quanto a provocação do último post, creio que, se Polanski tinha algumas contas a acertar com a sociedade relativamente ao seu ato reprovável (mesmo que se argumente que em sua cultura era comum sexo entre um homem e uma menina menor de idade, ele estava no EUA, o que o obriga a observar suas leis), estas já estão mais do que acertadas, ao menos do ponto de vista moral, pois os motivos pelos quais o processo continua em aberto (o que lhe acarretou alguns dias de prisão domiciliar na Suíça recentemente) exorbitam, infelizmente, a esfera judicial justa. Desta forma, obviamente, isto nada tem a ver com sua inegável criatividade artística. Eu sei que não precisava, mas eu só queria pontuar.

Monte sua programação aqui.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Festival do Rio 2010

Cheirinho de Festival do Rio do ar e meu coração se enche de esperança e alegria. Época de salas de cinema de Botafogo lotadas, filmes com nomes estranhos (“Andrés não quer dormir a sesta”?!?), cine Odeon funcionando full time, sessões no meio da tarde e mais de uma sessão por dia. Sim, eu amo muito tudo isso.
Sabe-se lá porque razão, este ano, olhando a programação, fiquei mais instigado com os documentários. Aí vão alguns filmes que, numa primeira passada d´olhos, despertaram a minha curiosidade:

POLANSKI: Procurado e desejado
Sou profundo admirador do que conheço da obra de Polanski. Entretanto, neste documentário, o foco não é sua obra (há algum documentário sobre a obra de algum cineasta?), mas um fato específico de sua vida pessoal: A condenação por abuso sexual a uma menor de idade que lhe rendeu uma proibição de voltar a pisar os pés nos EUA sob pena de prisão imediata e uma prisão domiciliar recente na Suíça.
Uma provocação: É gostável a obra de um cineasta que teve relações sexuais com uma menina de 13 anos, vulgo pedófilo?

Stones in exile
Vi imagens deste filme numa coluna do Nelson Motta no Jornal da Globo há um tempo e pude constatar a força que os Stones deviam ter na época em que se passam os acontecimentos do documentário. Na verdade, o que ficou registrado, era que se tratava de uma reportagem, uma coluna, não lembrava da informação de que havia um documentário. Lembro que fiquei muito impressionado e tuitei algo a respeito e qual não foi minha euforia quando vi que existia este filme e que ele passaria no festival.

O último sonho de Pina Bausch
Dança, normalmente, não é algo que me sensibiliza. A primeira (e única e última?) vez que me emocionei com uma coreografia foi a da cena inicial de “Fale com ela”, do Almodóvar, que me marcou tanto que me preocupei em saber quem era a coreógrafa. Pina Bausch. Fiquei ainda mais motivado quando descobri que este filme mostra um trabalho dela com adolescentes que nunca haviam tido experiência com a Dança, com os quais ela pretenderá montar o espetáculo.

Somewhere
Já comentei sobre este filme aqui e esta é a primeira “ficção” desta leva. Ficção entre aspas, pois até onde li a respeito, o filme possui ares auto-biográficos, uma vez que a diretora e roteirista é a Sophia Coppola, filha do Francis Ford Coppola, e o filme fala da relação de um astro de Hollywood com sua filha de 11 anos. O trailer é de uma delicadeza só. A marca registrada de quem dirigiu “Lost in translation” e “Marie Antoinette”. Eu sei que é blockbuster, que não deve demorar para estrear, mas até onde sei, não há nenhuma data certa. Estou ansioso, então, é melhor garantir.

Fragmentos de conversas com Godard
A única vez que lembro de ter dormido no cinema (sem ser em filme do meio de maratona do Odeon) foi em um filme do Godard. Não fez sentido, não me tocou e lembro que não me senti minimamente inferior por isso, tendo em vista a aura intelectualóide que cerca o público de seus filmes. Entretanto, confesso que ainda tenho certa curiosidade acerca do personagem, sobretudo sobre o objeto deste documentário. Durante a faculdade de Direito fiz parte de um grupo de pesquisa em Direito e Cinema, que justamente investiga as interseções entre os fenômenos da comunicação, da arte e do direito e creio que serão trabalhados alguns conceitos interessantes a esse respeito neste filme.

A casa muda
Não tenho certeza se será um filme que estreará em grande circuito. Algo me diz que é possível, se se pensar em “A bruxa de Blair” e demais congêneres. Pelo sim, pelo não, compõe minha lista. O filme foi feito com uma câmera fotográfica digital na função vídeo, US$ 6.000,00 (sim, seis mil dólares) e em uma tomada só, um grande plano sequência contando em tempo real uma história baseada em fatos reais de duas pessoas que foram misteriosamente assassinadas em uma casa isolada numa pequena cidade do Uruguai.

A Suprema Felicidade
É o filme do Jabor. Com poucas sessões neste festival, devido a uma certa proximidade de seu lançamento, em 29 de outubro, apesar da expectativa ser grande, creio que este é o que tenho menos chance de ver nesta lista, mas incluo-o aqui por um motivo pitoresco: É o filme que irá abrir o festival coincidentemente no mesmo dia em que será anunciado pelo Ministério da Cultura o filme brasileiro que representará o Brasil no Oscar 2011. Se eu fosse um pouco mais conspiracionista arriscava um palpite, mas vai ver é só coincidência mesmo. O que, claro, não interfere nos eventuais méritos do filme.

... e a lista prossegue. Só coloquei aqui os que considero mais relevante de acordo com minhas expectativas. Qualquer acréscimo, decréscimo ou permuta, noticio aqui, bem como o que fui achando de cada filme. E vocês? O que vão assistir? O que me sugerem?

PS: Preguicinha de colocar dias, horários e locais das sessões. Dêem um jump em http://www.festivaldorio.com.br/site2010/filmes/filmes.htm e procurem lá!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Oscar vai para ...

Ontem, dia 08 de setembro, o Ministério da Cultura divulgou uma lista de 23 filmes aptos a concorrer a indicação para a categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2011 representando o Brasil. A escolha do filme será feita, segundo o site, por uma Comissão composta por representantes do governo (?!?), sociedade civil organizada e especialistas do setor. A diferença é que este ano a população pode se manifestar votando no filme que julgar merecedor de concorrer. A Comissão, obviamente, não estará obrigada a acatar a sugestão popular, mas creio que esta pode ser relativamente importante no resultado final.
No momento em escrevo este post "Nosso Lar" lidera a pesquisa com esmagadores 4.820 votos, o que dá 45% dos votos computados até este momento. O curioso é que "Antes que o mundo acabe" está empatado com "Chico Xavier" (ambos com exatos 1.295 votos). Digo curioso porque a julgar pelos critérios que imagino estarem sendo levados em conta até o momento, era de se esperar que "Chico Xavier" estivesse com uma vantagem muito maior. Fico feliz que seja assim porque "Nosso Lar" e "Chico Xavier", cinematograficamente, estão longe de ser grandes coisas. E uma produção como "Antes que o mundo acabe", lançada, por enquanto, somente em Curitiba, Porto Alegre e São Paulo (a estréia no Rio será dia 17/09, segundo informação da produção a este que vos tecla) estar disputando o segundo lugar com a segunda maior bilheteria do país desde a retomada, pelo menos por enquanto, parece um dado significativo.
Confesso que, da lista, vi poucos, mas sei que dificilmente mudaria meu voto, que foi para "Os famosos e os duendes da morte". E olha que as minhas espectativas em relação a "A Suprema Felicidade" e ao próprio "Antes que o mundo acabe", que ainda estão para estrear, são bastante altas.
Para votar, cliquem aqui. Na janela que abrir (Home Page do Ministério da Cultura) desçam o cursor até aparecer à esquerda, escrito em amarelo o box "ENQUETE OSCAR 2011", cliquem no box e votem.
A votação só vai até o dia 20 deste mês
E, claro, gostaria muito de saber em qual vocês votaram e porquê.

PS1: Sim, sou espírita, curti bastante e me emocionei o dobro com "Chico Xavier" e "Nosso Lar", mas antes pela identificação com a temática do que por serem um primor artístico.
PS2: Ok, eu sei que Oscar definitivamente não é bem o exemplo de premiação em que o valor artístico é o critério principal, mas sou bastante cético quanto às chances de "Nosso Lar" e "Chico Xavier" com a Academia.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Sobre "Nosso Lar"


Como já declarei algumas vezes, sou espírita. Talvez por minha família praticamente toda também sê-lo. Talvez porque escolhi. Talvez por que tinha que ser assim. Fato é que a Doutrina Espírita, trazida pelos espíritos e codificada e organizada pelo pesquisador e acadêmico Hippolyte Leon Denizard Rivail (também conhecido por Allan Kardec) em meados do século XIX, até hoje me serve como fonte de inspiração para muitas das minhas questões filosóficas e religiosas devido a sua lógica e coesão interna tão ricas quanto robustas, bem como pelas provas que cada vez mais venho tendo de sua plausibilidade.
Dito isto, advirto desde já, que meus comentários sobre o filme “Nosso Lar” obviamente poderão pecar pela parcialidade dada a grande relação desta obra com o Espiritismo, doutrina que abraço.
A rigor, “Nosso Lar” não é baseado na obra de Chico Xavier, como traz a publicidade do filme, mas na do espírito André Luiz que, através do médium, escreveu, entre as décadas de 40 e 60, uma série de 13 livros intitulada “A vida no mundo espiritual”. Chico Xavier era apenas o instrumento, motivo pelo qual, inclusive, doava os direitos autorais destas obras para entidades de beneficência. Esta série narra as experiências do mencionado espírito no plano espiritual e tem em “Nosso Lar” o seu primeiro volume. É um livro de imensa relevância para a Doutrina Espírita pois, lançado em 1943, veio aprofundar tudo o que havia sido dito cerca de 80 anos antes, nos trabalhos de Allan Kardec.
O filme inicia-se com a emblemática imagem que estampa o pôster de divulgação, de um homem frente a uma imensa muralha de pedra onde parece haver uma porta de entrada bloqueada. A câmera volta-se, então, para o céu e o nome “Nosso Lar” surge no firmamento realçado por uma trilha sonora impactante para, após, mergulhar em uma espécie de subsolo.
Em uma paisagem sombria e inóspita, um homem acorda deitado chafurdando na lama. Uma voz em off, se encarrega de nos inteirar do que está ocorrendo. É André Luiz acordando numa região purgatorial chamada Umbral, narrando sua experiência.
Tenho uma particular rejeição com narrações em off. Salvo quando utilizada dentro de contextos muito específicos, como nos noir, por exemplo, o que não é o caso. Este recurso, na maioria das vezes, além de revelar uma possível falta de confiança do diretor e/ou roteirista na inteligência do espectador, soa como um excesso que, inclusive, pode dificultar a imersão na trama, que foi o que aconteceu comigo. Muito embora a recriação do Umbral esteja extremamente fiel ao que imaginei quando li o livro, com aquele falatório todo, senti alguma dificuldade em me sentir lá, o que é o grande barato da experiência cinematográfica (não que eu realmente quisesse me sentir no Umbral, é só uma observação crítica, ok?).
Por outro lado, é compreensível esta opção do diretor tendo em vista o didatismo característico da própria obra literária, que tem como objetivo principal explicar o funcionamento do universo que apresenta. Adicione-se ainda que, após, no decorrer do filme, tal recurso não mais servirá para explicar fatos (tal encargo caberá aos habitantes de Nosso Lar, sobretudo a Lísias), mas para que André compartilhe com o espectador suas elucubrações a respeito da visão de mundo que passa a adotar.
Entretanto se este recurso pode ser visto como pouco engenhoso, o mesmo não se pode dizer dos utilizados pelo diretor (ou montador?) para contar, em breves minutos, a história do personagem antes de sua morte. Encadeando suas lembranças às agruras sofridas no Umbral, há inegável habilidade nos movimentos de câmera e na montagem, que conferem certa agilidade à narrativa acerca da personalidade de André Luiz, fazendo-nos compartilhar de sua confusão mental oscilando entre seu estado atual e suas recordações.
Outro ponto alto da produção são seus efeitos visuais. O livro “Nosso Lar” causou inquietação entre os espíritas da década de 40 por trazer uma concepção do além um tanto quanto inovadora. Principalmente no que tange ao desenvolvimento tecnológico. Além do clássico aeróbus, meio de transporte público assemelhado a um ônibus aéreo, mencionado capítulo 10 do livro, há também a referência a um aparelho de comunicação muito próximo à televisão (capítulos 23 e 24). Graças a essas informações, até hoje há, no Espiritismo, correntes sustentando que André Luiz seria um espírito mistificador que se aproveitou da boa-fé de Chico Xavier para publicar seus livros e que tudo ali não passa de uma grande mentira.
Desta forma, tendo em vista as descrições entabuladas no livro, a produção de arte e os efeitos especiais são de primeiríssima qualidade. O Umbral e seus habitantes estão muito próximos daquilo que imaginei e Nosso Lar é um presente para os olhos com suas cores, sol perene e arquitetura leve e sinuosa, quase etérea. Qualquer referência a Lúcio Costa e Niemeyer não são mera coincidência tendo em vista que Brasília e aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, foram algumas das locações utilizadas como base. Provavelmente para esta área foi destinada grande parte dos cerca de 20 milhões de reais orçados pela produção, o que a coloca entre as mais caras realizadas no país até então.
A fotografia de Ueli Steiger revela-se um tanto óbvia privilegiando as cores e a luminosidade quando em Nosso Lar e as sombras sinistras quando no Umbral, além de utilizar-se de sépia, ao mostrar as recordações do personagem. E a trilha sonora de Philip Glass, bastante inspirada como sempre, pode soar um tanto excessiva para os mais exigentes (como soou para mim).
Renato Prieto surge como uma feliz revelação emprestando seu corpo ao Dr. André Luiz. Se, no início é o homem sisudo que foi na Terra, confuso com a nova realidade que se lhe descortina, ao final é um colaborador de Nosso Lar de semblante sereno e jovial, já mais consciente da natureza divina da vida.
O núcleo principal é ainda composto pelo enfermeiro Lísias, interpretado com doçura por Fernando Alves Pinto e por Rosanne Mulholland que, com um vigor inesperado, interpreta a rebelde Eloísa, personagem que faz interessante contraponto a André Luiz, uma vez que enfrenta maiores dificuldades em enfrentar a sua nova realidade. O filme conta ainda com participações especiais de atores conhecidos como Ana Rosa, na pele (ou seria perispírito?) de D. Laura, Othon Bastos, como o Governador de Nosso Lar e Paulo Goulart, como Genésio.
Werner Schünemann faz um Emmanuel quase que diametralmente oposto ao de André Dias em “Chico Xavier – o filme”. Altivo e formal em sua postura de senador romano, o mentor de Chico Xavier, aqui, mostra-se bem menos austero do que na outra produção. O curioso é que Emmanuel não aparece como personagem no livro, apenas prefaciou-o na qualidade de organizador do trabalho mediúnico de Chico, apresentando o “Novo amigo” André Luiz. Contudo, enquanto espírita, considerei bastante oportuna a inclusão por oferecer uma boa é plausível idéia de como se dá o trabalho de um guia espiritual, mesmo sendo uma trama originada única e exclusivamente na imaginação do roteirista que, neste caso, também é o diretor.
A direção de Wagner de Assis é bastante sensível e simples. É eficiente ao criar momentos de emoção como aqueles em que André Luiz visita sua família na Terra, mas talvez seja pouco criativa ao representar certas passagens como aquela que envolve o restabelecimento um tanto súbito demais de um certo personagem no fim da história graças a atuação do médico espiritual.
“Nosso Lar” é um filme (como o livro) que fala de esperança. Embora a idéia de vida após a morte não seja a maior novidade do mundo, é bastante intrigante a proposta que lança, uma vez que inova ao tratar deste universo, afirmando não só esta realidade, como revelando a existência de cidades espirituais e ainda mostrando que não há tanta diferença assim entre o cotidiano de uma cidade terrestre e o de uma cidade espiritual. A grande diferença entre umas e outras seria a ética em que as relações humanas se fundamentam em cada qual.
Algumas pessoas com quem conversei, inclusive espíritas, reclamaram que parece acontecer pouca coisa no filme. Estou convencido de que provavelmente esta impressão se deve a natureza intimista da trama principal. Narra a história de um homem em uma experiência espiritual (aqui no sentido de experiência íntima, essencial) em que há uma reformulação total de sua maneira de encarar a vida. Lembra-me a trajetória de personagens como a Dora, de “Central do Brasil” e Chris McCandless, de “Na natureza selvagem”. Não é tão importante o que se sucede no exterior, mas o que vai no interior do personagem. A diferença é que aqui o pano de fundo é, vá lá, "sobrenatural", muito embora os dramas enfrentados pelo personagem sejam demasiado humanos. Entretanto reconheço que talvez por eu conhecer bastante a obra original, tal questão tenha ficado mais perceptível para mim.
Assim, é emblemática a opção do diretor de encerrar o longa com a imagem inicial de André Luiz à frente da enigmática muralha de pedra. E se um dia formos nós em seu lugar? Qual terá sido nossa trajetória até lá? Estaremos preparados?

Leia também: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=846848

domingo, 15 de agosto de 2010

Meu caro amigo

Ontem fui assistir “Meu caro amigo”, com a minha cara amiga e irmã Eleanor Rigby. Como vocês podem perceber, a peça trata da obra de Chico Buarque, mas não aos moldes de “Raul fora da lei”, “Começaria tudo outra vez” ou “Renato Russo” - obras respectivamente sobre Raul Seixas, Gonzaguinha e Renato Russo – e tantas outras que eram como peças-show sobre a vida dos artistas.
Esta é uma obra diferente. É a história de Norma, uma fictícia cinquentona que não só se diz a maior fã do Chico, como também fez da obra do mesmo a trilha sonora de sua vida, desde quando tinha 10 anos e o viu tocando “A banda” no Festival Internacional da Canção de 1966. Daí em diante, ela vai narrando sua própria história e elencando todas as obras e composições do poeta. Convidados a percorrer este caminho com ela, nós próprios vamos nos dando conta de como Chico fez mais parte de nossas vidas do que supúnhamos.
Chico me lembra meu falecido, saudoso e mais que amado pai. Daí vocês podem imaginar o quanto a peça mexeu comigo. Chico me lembra as manhãs de domingo da infância, quando meu pai resolvia tirar a poeira dos seus vinis e colocar a vitrola lá de casa para funcionar. Como Norma, também tive minha infância embalada ao som de “A banda”. A minha versão era a do dueto com Nara Leão e sua voz de mãezinha contando história de ninar. Lembro também de meu pai cantarolando “Quem te viu, que te vê”, batucando desajeitadamente no volante, enquanto dirigia. E lembro ainda das vezes que ele me mostrou a beleza e a pungência de “Cálice”, me pedindo para “prestar atenção nessa letra” de um jeito que era só seu, me explicando a metáfora e a revolução – como, impropriamente, hoje sei, ele chamava o golpe militar de 64.
Sim, amigos, algumas lágrimas correram e não foram só as minhas. Fazendo um trabalho rico de atriz e intérprete, Kelzy Ecard, é toda encantamento e simpatia com sua voz doce e seu inegável carisma. Emociona a todos e é visível que ela própria se emociona em muitos momentos. Acompanhando-a no palco, um pianista e um cenário simples (pilhas de discos de vinil e outros poucos objetos de cena) dão o tom intimista e reflexivo que domina o enredo, apesar de alguns momentos de agitação, como naqueles em que a platéia, de bom grado, entoa um coro acompanhando a atriz, a convite da mesma.
Partindo desta identificação afetiva com o espectador, o espetáculo acaba por evidenciar a relevância da arte de Chico Buarque na cultura brasileira. Além do fato de praticamente todo mundo ter uma história com pelo menos uma de suas músicas, é possível contar um pouco da história do Brasil através delas, notadamente as feitas durante da ditadura militar. Sua monumental obra que atravessa décadas, influenciando gerações sucessivas, é revisitada LP por LP, sendo certo que ainda ficaram de fora muitos de seus grandes sucessos.
Em 2007 realizei o sonho de ver uma apresentação ao vivo do Chico, ao lado de Mônica Salmaso, no Circo Voador. Foi bonito e arrebatador. O público, majoritariamente de jovens abaixo dos 30 anos surpreendeu Chico e deixou ainda mais evidente que a sua não é uma obra datada e que ainda tem força o suficiente para influenciar e sensibilizar. O mesmo se pode constatar pelo público desta peça. Com uma faixa etária bastante heterogênea, todos se sentem próximos e privilegiados por serem contemporâneos de Chico Buarque de Hollanda.

“Meu caro Amigo”
Com Kelzy Ecard. Ao piano: João Bittencourt.
Quinta à Domingo, 19:30h. Até 05 de setembro.
Teatro SESI
Rua Graça Aranha, 01 – centro
Tel: 2563-4163
Ingresso: R$ 30,00 (inteira); R$ 15,00 (meia)
350 lugares

domingo, 8 de agosto de 2010

Como ser eterno, em três acordes

Eu quero ter 90 anos para não ter medo de morrer. Eu quero que àquela altura a vida seja tão bela, que eu ache que já tenha visto tudo, e tão banal, que não me faça mais falta, de modo que morrer não me traga nenhuma revolta. Eu quero que neste dia não faça diferença se há vida após a vida, eu quero morrer como um senhor de pijamas que deixa seus chinelos tranqüilos ao pé da cama e deita, para dormir o sono dos justos. Eu quero ter conhecido tudo o que me foi dado conhecer, dos segredos deste mundo e de outros, de forma que eu não sinta mais fome e que meu andar seja digno e não temeroso. Eu quero poder falar do que eu sei e do que eu não sei sem reservas para ajudar os mais jovens e tolos, apenas com base na minha intuição afiada, como os velhos anciões de aldeia. Eu quero olhar minhas mãos enrugadas e nelas ver as mãos dos meus avós e me sentir orgulhoso de ter trabalhado, escrito cartas, ninado crianças, sentido o vento das estradas. Eu quero olhar as novas gerações e me ver nelas e quero ver estas gerações grávidas e parturientes de outras e certamente iria gostar imensamente se elas desejassem igualmente, um dia, chegar aos 90 anos.
***
Este texto me veio à cabeça hoje, vendo o meu avô. Feliz dias dos pais a todos os avôs, que fazem as vezes de pai.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sobre "Viajo porque preciso, volto porque te amo"


Só para constar. Como já deve-se ter percebido, não tenho, ainda, preocupação em escrever somente sobre filmes que estão estreando, escrevo sobre filmes que vejo, que não necessariamente acabaram de entrar em cartaz, ou ainda que não ficarão em cartaz por muito tempo ou até sobre alguns que já saíram de cartaz (ainda não o fiz, mas está nos projetos). Enfim, vocês entenderam.
Desta forma, não sem algum pesar, falarei só hoje de “Viajo porque preciso, volto porque te amo”. O pesar não é porque eu não tenha gostado do filme e escrever sobre ele seja chato, em absoluto, mas sim porque me parece ser um filme que já deve estar saindo de cartaz, e teria sido legal ter divulgado minhas impressões sobre ele antes, para que mais pessoas pudessem ter tempo de conferí-lo.
O filme narra a história de um geólogo (o Google me diz que o nome dele é José Renato, mas não lembro de em algum momento isso ser dito no filme) recém separado de sua mulher, que viaja pelo interior do nordeste para estudos e medições do impacto da transposição de águas de um rio nas comunidades da região.
A identificação do universo interior com o exterior é imediata. Tanto quanto pela paisagem árida, quase desértica, quanto pelo contexto. Logo nos primeiros minutos do filme o geólogo mostra um casal, daqueles muito humildes, que há cinqüenta anos mora na mesma casa, dorme na mesma cama, e que vai ser desalojado para que a região possa submergir. Por alguns minutos o homem sai da frente da câmera e o geólogo diz que pediu que ele voltasse por que não parecia certo aquela mulher aparecer sozinha. Pode ser que eu esteja enganado quanto às palavras, mas idéia era esta. Foi a parte que mais me comoveu.
E assim, vamos acompanhando o geólogo por sua viagem, suas anotações técnicas e suas divagações emocionais. Ele é geólogo, ela botânica. Ele sente amores e ódios repentinos por ela e fez aquela viagem para tentar esquecer o pé na bunda que ela lhe deu. Só que, em toda aquela solidão, ele só faz lembrar. “Viajo porque preciso, volto porque te amo” foi uma frase que ele viu na porta de um dos banheiros por onde passou e que ele tinha vontade de dizer pra ela. Mais tarde, ele subverte um pouco e diz “viajo porque preciso e não volto porque te amo”.
Em momento algum o geólogo aparece. O tempo todo ele nos narra, em off, as suas desventuras amorosas entrecortadas por relatórios técnicos dos aspectos geológicos das regiões por onde passou (numa possível metáfora do seu estado emocional). As imagens são algo entre uma câmera subjetiva (aquela em que a câmera faz as vezes do próprio personagem) e um registro de viagem. Um tanto menos disso e um tanto mais daquilo. Ou vice-versa. Ainda há as fotografias, remetendo tanto ao mero registro, como à monotonia da vida naquelas regiões. O resultado é uma bela poesia visual que me pareceu ter a pretensão de ser tão involuntária e desproposital quanto a beleza daquelas paragens inóspitas.
Com essa combinação, cria-se uma mágica e sólida proximidade com o personagem. Estamos vendo o que ele vê, ouvindo seus pensamentos e sentindo o que ele sente e, muitas vezes, ao som da música brega das rádios que ele ouve. E é bem verdade que se por um lado, seu gosto musical revela um traço da classe social a qual ele pertence, por outro, funciona como uma bela (isso mesmo) trilha sonora para a baita dor-de-cotovelo que ele está sentindo. Destaque para a versão de “Último desejo”, de Noel Rosa. Muito sensível e belamente cantada por um sapateiro da beira da estrada e depois recitada pelo personagem, remoendo suas dores.
Aliás, o ator Irandhir Santos (o geólogo, não o sapateiro) faz um belo trabalho de voz. Esta é a única referência que temos do personagem, a sua voz. Quem já teve a experiência de buscar entonações variadas e verossímeis a textos escritos sabe a dificuldade que é. Com um irresistível sotaque nordestino, que suponho ser-lhe de nascença (não sei de sua naturalidade) e fazendo uso aqui e ali daquele rico vocabulário (que, ok, devia estar no roteiro, mas uma coisa é estar escrito, outra é dizer como se fosse usual) Irandhir nos faz entender todos os momentos pelo qual o personagem passa.
O filme ainda flerta com um formato documental ao mostrar as pessoas que cruzaram o caminho do personagem, como o referido sapateiro e algumas prostitutas, sendo que uma delas chega a ser entrevistada por ele. E isto não quebra a diegese do filme, uma vez que parece servir os estudos do personagem e é tudo mostrado num tom misto de humor e melancolia, carregado com o subjetivismo do mesmo.
Resumidamente, “Viajo porque preciso e volto porque te amo” é uma espécie de road movie só que com uma alta carga de introspecção contemplativa. Um check-list sentimental do personagem com seu inconformismo com o fim de um relacionamento, proporcionado pela solidão de uma viagem idealizada para o propósito contrário para o qual serviu. “Um calmante que não resolveu a dor, mas tranqüilizou o juízo”, como ele mesmo diz.

domingo, 18 de julho de 2010

contra plongée

Uma das grandes descobertas da vida é a de que obrigação não é coisa que deve vir separada de diversão. Se a obrigação, em si, não é necessariamente divertida, é importante ter um tempinho extra e se dedicar à diversão. Para respirar. Para cuidar do espírito e ter disposição para seguir adiante nas obrigações.
É bom dar um tempinho nos estudos e curtir um cineminha. Seja um blockbuster com explosão, seja um cult hermético esloveno. Quando as coisas estão preto-e-brancas demais aqui fora, é bom correr para dentro de uma sala escura onde tenha uma tela brilhante. E entrar nela.
Abaixo, pílulas sabor cinema de filmes do futuro, em ordem de minhas expectativas, a quem interessar possa:


SOMEWHERE (Sophia Coppola, previsão de estréia 22/12/2010 nos EUA)
Delícia, não? Fui correndo pesquisar qual era a trilha sonora. “I´ll try anything once” , dos Strokes. A câmera contemplativa e o tom intimista talvez remetam um pouco a "Encontros e desencontros”, mas eu não vejo isso necessariamente como um problema. Sophia Coppola definitivamente está no panteão dos cineastas que me deixam ansioso por seus próximos lançamentos. Comigo, ela tem créditos a favor justamente por causa de “Encontros e desencontros” e também por “Maria Antonieta”- por “Virgens Suicidas” nem tanto. Este está no rol dos que precisam ser revistos devido às condições adversas na primeira experiência (peguei já começado e na TV a cabo).
Infelizmente, somewhere ainda não tem previsão de estréia no Brasil.


TROPA DE ELITE 2 (José Padilha, previsão de estréia: 08/10/2010)
É inegável o quanto Capitão Nascimento conseguiu se tornar um grande personagem do nosso imaginário popular. Até hoje as pessoas falam em “pede para sair”, “zero dois”, “zero meia”, “aspira”, não sem um certo tom jocoso, como uma referência ao autoritarismo e arrogância do Capitão do BOPE imortalizado por Wagner Moura, levado às telas em 2007. O primeiro foi um filme intrigante. Não foi óbvio ao mostrar um inquietante panorama deste mosaico complexo que é a questão da segurança pública na cidade do Rio de Janeiro. Foi taxado de fascista e, em uma análise apressada e tendenciosa, pode sim, passar esta impressão, mas com um pouco de inteligência e boa vontade vê-se uma madura e ousada obra do diretor do nada fascista “Ônibus 174”.
Este segundo, para dizer o mínimo: promete.
Diz aí: quem não arrepiou a nuca ao ouvir o Capitão com seu tom sempre marrento falando da sua experiência no BOPE e aparecendo grisalho e sendo pego em uma emboscada?


THE SOCIAL NETWORK (David Fincher, previsão de estréia: 03/12/2010)
Fui tomar conhecimento desta produção justamente por causa deste trailer recém lançado. Sua trilha sonora, uma versão arrasa-quarteirão de “Creep”, clássico do Radiohead, cantada por um coro infantil (ao menos assim me soa), além de simplesmente me arrasar – no ótimo sentido - é realmente ideal como uma clara referência tanto à juventude dos inventores do Facebook, de cujas histórias o filme pretende se ocupar, quanto à eventual carência da nossa geração de usuários de redes sociais sempre tão ansiosos de se mostrarem felizes e populares quando, muitas vezes não o são, uma vez que a música fala em se sentir esquisito e inadequado.
Traz no elenco Jesse Eisenberg, o sósia do Michael Cera, e Andrew Garfield, o mais novo Homem-Aranha. A direção é do David Fincher ( de “Seven”, “Clube da Luta”, “Curioso Caso de Benjamin Button” - só para citar meus favoritos).


NOSSO LAR (Wagner de Assis, previsão de estréia: 03/09/2010)
Não, não é uma sequência de ‘Star Wars’. Sim, é um filme brasileiro. “Nosso lar” é uma das obras literárias mais conhecidas da psicografia de Chico Xavier, foi psicografada pelo médium na década de 40 e narra a história do próprio espírito autor, o Dr. André Luiz, que, quando morre depara-se com toda uma realidade para ele, até então bastante improvável de vida no além. Para se ter uma idéia “Nosso lar” é o nome da cidade espiritual para onde Dr. André Luiz vai após a morte. Não sem antes passar por uma região assustadora chamada de umbral.
O visual do trailer é surpreendente. Não há nada parecido em nossa produção cinematográfica em termos de efeitos especiais, o que, acreditem, serve à história. Espero muito, como espírita admirador desta obra e como cinéfilo, que este filme atenda às minhas expectativas de não ser um clichê lacrimogêneo com parafernalhas high tech, mas que realmente conte a história de um homem que descobre um novo paradigma de vida. A trilha sonora é do Phillip Glass. Mais um motivo para a alta expectativa.


A ORIGEM (Christopher Nolan, previsão de estréia: 06/08/2010)
Christopher Nolan lidera, no momento, as bilheterias norte-americanas com este “Inception”. “Memento”, “Insônia”, “Batman Begins”, “O grande truque” e “O Cavaleiro das Trevas” são motivos mais do que suficientes para ele me levar ávido ao cinema para conferir este seu mais novo trabalho. Segundo o imdb, eu só não citei três da sua filmografia de oito filmes até o momento. E eu só não o fiz por que eu ainda não vi estes três. Logo, se tudo o que eu vi dele até agora, eu gostei, as chances de eu não gostar deste são mínimas. Dá para ver que o visual deste filme, pelo menos até agora, é impecável, que o elenco é de primeira e que a história é bem interessante. Pelo que li, DiCaprio interpreta um ladrão com habilidade de penetrar no inconsciente de suas vítimas enquanto elas dormem e isto terá implicações na espionagem internacional. Mal posso esperar. Ainda bem que será o primeiro do grupo a estrear.