sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Bilionários por acaso


Acabei de ler BILIONÁRIOS POR ACASO – A CRIAÇÃO DO FACEBOOK, uma história de sexo, dinheiro, genialidade e traição, de Ben Mezrich - livro que inspirou o filme A REDE SOCIAL, de David Fincher, que estréia hoje.
Fui atraído pela história justamente após assistir o magnífico trailer do filme. Conheço muito pouco do Facebook e de sua história pois, como todo bom brasileiro, o meu site de relacionamento original foi o bom e velho Orkut e ultimamente meu interesse pela vida virtual tem se restringido ao Twitter e a este espaço. Acho até bacana a idéia de redes sociais, mas acho que cuidar de todas elas do jeito apropriado demanda um tempo que não gostaria de perder. Talvez seja falta de visão minha, mas prefiro acreditar que seja uma questão de prioridade. Desta forma, sabia muito pouco sobre o Facebook e muito menos sobre a história de sua criação. Não é novidade que sexo, dinheiro, genialidade e traição estejam geralmente ligadas a criações de empreendimentos do porte do Facebook, ainda mais quando os responsáveis são universitários ambiciosos vindos de Harvard que descobrem uma mina de ouro meio que “por acaso”. Além deste contexto clichê (porém sempre irresistível), lendo o livro, fica óbvio perceber que a sua adaptação cinematográfica era uma questão de tempo, não só por isso, mas principalmente por dois motivos: a habilidade narrativa de Mezrich e um “personagem” tão excêntrico quanto enigmático (e não menos polêmico) como Mark Zuckerberg, o gênio nerd de 26 anos, dono e “inventor” do Facebook.
Mezrich, jornalista, já é veterano em ter obra sua adaptada pro cinema. A primeira foi BRINGING DOWN THE HOUSE que originou o excelente filme QUEBRANDO A BANCA, com Kevin Spacey, sobre um grupo de jovens gênios da matemática que fizeram fortuna contando cartas em Las Vegas. Contudo, BILIONÁRIOS POR ACASO, não é um texto eminentemente jornalístico ou biográfico. A idéia, aqui, parece ser: antes de informar, entreter. E a narração dos fatos ganha uma versão romanceada. Tem até narrador onisciente. Logo no início, Mezrich faz esta advertência ao leitor, informando que fez inúmeras adaptações à história que investigou e que, inclusive, tomou a liberdade de acrescentar e/ou modificar elementos, principalmente quanto a detalhes como a descrição de ambientes. Relata ainda que, em nome de uma maior fluidez, recriou e adaptou diálogos, entretanto respeitando-lhes a essência. E é realmente impressionante a sua capacidade de mesclar ficção (aquilo que imaginou) e realidade (o que realmente aconteceu), claramente tampando os buracos dos fatos não só com boas sacadas de descrições de ambientes como também com os prováveis sentimentos dos personagens, o que realmente dá vida à história, além de nitidamente, em certos momentos, adaptar uma situação ou outra para que a narrativa tenha ritmo e agilidade. É curiosa e esperta a forma com que começa cada capítulo. Sempre jogando o leitor um pouco adiante na história a fim de causar uma certa estranheza e curiosidade iniciais, para, em seguida, retornar e explicar como se chegou até ali, além de encerrá-los sempre com o clássico gancho para o que virá a seguir.
No fim, o que se tem é uma trama de negócios, traição e até certo suspense, com um ar jovem, quase teen, que entretém como se fosse um grande exemplar de ficção do gênero. Talvez uma crítica pertinente seja justamente a de que o livro privilegia o entretenimento em detrimento da informação, o que pode levantar dúvidas sobre a sua credibilidade. Entretanto, com uma história dessas nas mãos, com todos os elementos clássicos de histórias de ficção sobre grandes corporações, creio que eu também não hesitaria em retratá-la como tal.
Em relação a Zuckerberg, Mezrich também informa no início do livro que ele recusou-se a dar depoimentos, o que contribui ainda mais para a aura de mistério que o cerca. Tudo o que sabemos sobre ele é a forma como cada um o percebeu em cada situação ou um juízo de probabilidade do autor de como ele se sentiu neste ou naquele momento. Zuckerberg é inicialmente apresentado como o cara sempre indecifrável, nerd anti-social convicto, econômico nas palavras e aparentemente nos sentimentos e dono de um senso de humor cáustico que acha tudo “interessante”. Por vezes deixava escapar um certo brilho no olhar um tanto indefinível em situações específicas, mas não mais que isso. Definitivamente, seu principal trunfo, que lhe permitiu iniciar seu projeto ambicioso com certo conforto, ainda que de forma eticamente duvidosa, foi justamente a leitura equivocada que as pessoas comumente faziam dele, provavelmente confiando em sua aparência inofensiva e talvez um tanto frágil, quase que subestimando-o (o que fica claro no episódio com os irmãos Winklevoss e o HarvardConnection/ConnectU). Não contavam que ele fosse astuto, conhecesse como poucos os desejos das pessoas quanto aos seus relacionamentos sociais e, mais do que tudo, que ele fosse detentor de uma determinação monumental para levar o seu projeto de revolução virtual adiante. Determinação essa que, ao que tudo indica, arruinou a sua amizade com o economista brasileiro e amigo de Universidade, Eduardo Saverin, colaborador de primeiríssima ordem (com uma importante viabilização financeira) do projeto. Vale lembrar que Saverin foi um dos principais colaboradores de Mezrich em suas pesquisas, o que pode ser um indício dos motivos de Zuckerberg em recusar-se a falar com o jornalista. Pode soar paradoxal que alguém aparentemente com tanta dificuldade em lidar com pessoas seja justamente o idealizador e dono da rede social mais famosa do mundo, entretanto, este é um fator que comprova de maneira ainda mais contundente a sua genialidade. Li uma declaração sua em que ele diz que não fez o Facebook para ser aceito socialmente, mas pelo prazer de criar algo legal. E, pelo que vejo, ele fez, sim, a sua revolução. Mezrich chega a apostar que chegará o dia em que o Facebook desbancará o Google. Quem viver, verá.

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