quarta-feira, 7 de abril de 2010

Onde estamos?

Um amigo muito querido, relatou esta situação, ocorrida com ele, e me passou por e-mail. O nome do assunto era "Onde estamos?". Fica a reflexão.

"Foi assim que tudo se passou nesta manhã:
- Bom dia, me vê um pingado e um pão na chapa, por favor.
- Claro senhor, um instantinho só.
- Como é que essa chuva tá, né?
- Nossa nem me fale.
E ali fiquei tranquilamente tomando meu café da manhã, em pleno Largo do Machado. Passam pessoas conhecidas que me cumprimentam. Troco olhares com minha amiga que trabalha ali na cafeteira. Claro que ela não pode sentar ali e conversar porque tem os outros clientes para atender e tem sobre ela o olhar vigilante do dono da cafeteria.
Quando estava terminando de comer:
- Oi tio, paga um salgado pra mim.
- Oi rapaz, tudo bem com você – e aperto a mão do menino.
O homem do caixa, grande e forte, olha torto para ele, mas eu lhe digo:
- Fique tranquilo, eu conheço esse menino. É meu amigo.
- Mas aqui não pode pedir.
Então eu decido convidar o menino:
- Senta aí cara – minha intenção era que sentado, ele chamasse menos atenção.
Nesse momento o dono chega e fala:
- Não pode não. Aqui não é lugar para esse tipo de gente.
Esse tipo de gente... aquilo foi uma bomba em meu coração.
Não podia engrossar, afinal era amigo da garçonete e ia sobrar para ela. Olho para ela, que está lá na chapa preparando mais um pãozinho e trocamos olhares confidentes de novo.
- Espera lá fora, amigão, que eu te levo um salgado. Pode ser joelho?
- Pode sim, tio.
- Quanto deu?
- R$ 3,50
- Mais o joelho.
- R$ 5,80.
- Aqui está. Esse menino é antigo aqui – falei com lábios gentis e olhos serenos - É do Largo do Machado mesmo. Antes mesmo do senhor vir abrir seu negócio aqui. Ultimamente tem vindo uma turma grande para cá, eu sei, mas esse menino é do Largo do Machado... é dos nossos.
Guardei o troco e me despedi:
- Té logo, bom dia.
- Bom dia. Desculpe – o dono sem graça me olha como criança. E ainda lança uma justificativa razoável – é que se uma mulher entra aqui, vai ficar com medo.
- Claro, claro – saí desfilando gentilezas. E aceno um adeus a minha amiga.
Saí andando, finalmente o sol após as chuvas incansáveis. Que lugar bonito esse Largo do Machado... E a frase do dono martela em minha mente: aqui não é lugar para esse tipo de gente. Esse tipo de gente?
Onde estamos? Na Índia das castas? Na África do Sul do apartheid? Nos Estados Unidos antes de Luther King? Não, estamos no Brasil, em 2010.

Se você sente amor pela gente humana, repasse esse email e me ajude a sensibilizar as pessoas para a questão da exclusão que nossa civilização está vivendo. Chega de muros separando nossos corações.

Meu nome é André A. Pereira, sou educador, amo o ser humano. Essa história aconteceu esta manhã, dia 7 de abril de 2010, pertinho da minha casa.

paz, paz, paz!"

2 comentários:

  1. Excelente texto, Gabriel!
    Infelizmente fazemos parte dos que segregam, e ao ler esse relato, a gente sente uma certa vergonha... beijos

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  2. Gabriel! Parabens pelo blog! Realmente muito bom! Esse tipo de comportamento infelizmente acontece nao soh no largo do machado como em todo mundo. Mas o culpado somos nos, que ao ver esse tipo de comportamento concordamos e aceitamos para evitar indiscricoes e constrangimentos. Longe se mim querer julgar quem nao se rebela pois muitas vezes sou culpado tambem, mas enquanto permitirmos esse tipo de comportamento em 2010 continuaremos presenciando comportamentos pre aparthei. Abs! Seu primo andre.

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