sábado, 27 de março de 2010

O trovador solitário


Hoje, Renato Manfredini Júnior, se estivesse vivo, completaria 50 anos de vida. Emocionei-me, hoje, ao lembrar disso. Emocionei-me pois devo muito da minha vida a este, agora, senhor de meia idade. Pode parecer exagero dizer isso, mas não é.

Foi lá pelos idos de 1997 que, me arvorando por gostos musicais diversos dos que meus amigos da época compartilhavam, surrupiei um CD que minha irmã havia ganhado de um namorado e fiz do meu tocador o seu lugar cativo. Era “Mais do mesmo”, uma coletânea dos maiores sucessos do grupo, lançado, pois, postumamente.

Acho que deveria ter uma lei obrigando adolescentes de 14 anos a ouvirem Legião Urbana. Se bem que, mesmo esta não existindo formalmente, a força dos costumes insiste em torná-la vigente. Posso estar enganado, mas acredito firmemente que a Legião Urbana não caiu no esquecimento. Se se perguntar a um grupo de dez adolescentes, talvez a metade já tenha ouvido falar, ou, se não, é fã do grupo.

Foi extremamente libertador, desbravador e inspirador ouvir aquele vozeirão amargurado e rebelde botar pra fora toda a ebulição de sentimentos que eu começava a sentir. Arrisquei escrever poesias, também marcadas pela angústia e pelo pessimismo, e, confesso sem modéstia, por algum lirismo e beleza. Comecei também a juntar e procurar toda informação sobre a banda e sobre Renato. Comprei livros, gravei especiais de televisão da MTV. Lembro da minha ansiedade esperando por meus pais chegarem do trabalho quando foi lançado, em 1999, em CD o acústico gravado pela banda em 1992. Eles tinham comprado o CD e, tarde da noite, botei-o para tocar, em êxtase. Não preciso nem dizer que o mesmo quase foi incorporado ao tocador por usucapião.

Ouvir Legião Urbana, para mim, foi como uma iniciação. Foi quando passei a não ouvir o que todos a minha volta ouviam. Foi quando passei a me interessar um pouco mais seriamente por cinema. Foi quando passei a ler as coisas com olhar mais apurado. Foi quando comecei a ler poesia e ver mais poesia na vida.

Abaixo, minha lembrança de uma das músicas que mais me marcaram. Cujos acordes iniciais me remetem imediatamente àquela época e que, para mim, simboliza toda dor acerca da efemeridade da vida e da juventude.

Hoje, Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá estarão tocando juntos pela primeira vez desde o fim da banda com a morte de Renato no Programa Altas Horas, de Serginho Groissman. Justa homenagem. Força sempre!

Nenhum comentário:

Postar um comentário