domingo, 17 de abril de 2011

Sobre "Pânico 4"


Lá pelos idos de 1997, meio sem saber muito do que se tratava, fui com minha mãe ao cinema (o falecido e imenso Art Tijuca, hoje uma irrelevante Leader Magazine), por indicação de minha irmã assistir ao primeiro PÂNICO. Eu já havia sido aterrorizado na minha infância por Jason e companhia e não precisou de muito esforço para eu me tornar um fã imediato desta nova produção. Além do fato de eu já gostar do gênero, o roteiro era bem trabalhado, o clima de tensão era bem construído e ainda havia um certo humor com várias referências espirituosas sobre cinema e filmes de terror. Quando soube que haveria uma continuação, fiquei eufórico e passei a acompanhar todos os filmes da trilogia – e todos os outros do gênero que vieram a reboque deste que já é considerado um clássico pelos especialistas.
Eu jamais poderia esperar que, onze anos depois de PÂNICO 3, iriam se aventurar a fazer um PÂNICO 4. Primeiro porque aparentemente já tinham sido aproveitadas todas as oportunidades que a saga de Sidney Prescott e companhia poderia oferecer e segundo que o gênero não está exatamente em alta (e aí pode surgir uma luz sobre a justificativa para esta continuação: a esperança dos estúdios de resgatar um gênero que sempre é sinônimo de bilheterias generosas e que nessa era de downloads pode atrair novamente o público para as salas de exibição por ser sempre um evento melhor aproveitado por grupos de adolescentes histéricos - principalmente os americanos, que tem mania de interagir com os filmes).
Além disso, confesso que assistir a um filme deste tipo nesses dias de hoje foi uma experiência estranha por outros motivos. Quando cheguei ao cinema, tinham dois meninos do lado de fora num misto de excitação e medo para entrar na sala. Diziam eles que tinham visto não sei onde que em algumas sessões poderia aparecer uma pessoa vestida de Ghostface para assustar os espectadores e promover o filme. Eles pareciam se divertir com isso, eu, confesso, fiquei preocupado de verdade. Podem me chamar de neurótico, mas na época dos primeiros filmes não havia Columbine, atirador do shopping Morumbi e atirador de Realengo. Naquela época, fazia parte do esquema saber que aquilo tudo não passava de ficção, que somente estávamos dando vazão a nossa ancestral atração por sentir medo com segurança e até por diversão e, mais importante, com distanciamento. Nunca situações deste tipo tinham acontecido tão próximo a mim a ponto de me incomodar um pouco na hora de ver o filme, e não posso dizer que não incomodou.
Enquanto filme, fui sem esperar muita coisa e ouso dizer que fui surpreendido positivamente. Acho que nada superará a trilogia original, principalmente os dois primeiros, mas confesso que curti também os seguintes, guardadas as devidas proporções.
Acho que o que mais gostei neste filme foi a oportunidade de rever os personagens tanto tempo depois e saber o que “aconteceu” com eles nesse meio tempo. Achei uma proposta interessante. Bem batida, mas interessante, principalmente por ser uma franquia que acompanhei de perto.
O filme começa justamente brincando com a infinidade de sequências caça-níqueis desnecessárias que esse tipo de produção costuma ter (e da qual este parece pretender ser uma exceção) e já dá pistas de que o mote vai ser justamente uma tentativa de atualizar o gênero para os dias atuais de internet, imediatismo e 15 minutos de fama.
Sidney Prescott retorna como uma equilibrada autora de livros de auto-ajuda perseguida, sim, por seus fantasmas, mas disposta a enfrentá-los, tanto assim que quando Ghostface ataca pela primeira vez em sua presença, em vez de fugir com medo, ela corre em sua direção disposta a enfrentá-lo a qualquer custo, inclusive dando-lhe uns bons sopapos. Neve Campbell parece segura no retorno à personagem que a lançou na carreira cinematográfica, sendo ainda uma presença forte em cena com seu carisma e olhar expressivo. Courtney Cox e David Arquette também estão razoáveis neste retorno a Gale Weathers e Dewey, agora promovido a xerife. Lembrava dele ter ficado com seqüelas físicas dos acontecimentos do primeiro filme (o que, salvo engano foi até motivo de piada nas outras sequências), mas isso não aparece e não é sequer mencionado neste, será que ele se recuperou com incontáveis sessões de fisioterapia? Ficamos sem saber. Gale Weathers busca uma relevância na trama que nunca chega a ter, mas é divertido vê-la novamente em ação nem que seja para “matar a saudade”. Já os “novatos” Hayden Panettiere (Kirby Reed), Rory Culkin (Charlie Walker), Emma Roberts (Jill Roberts), Erik Knudsen (Robbie Mercer) e Nico Tortorella (Trevor Sheldon) se saem bem também neste quase remake do primeiro filme (reparem bem, quase todos estes perfis estavam no primeiro filme, inclusive o tipo de morte de alguns). Destaque para os dois primeiros, que realmente saem do tatibitate dos filmes do gênero conferindo alguma autenticidade às suas atuações.
A direção de Wes Craven é competente como sempre e o roteiro segue o padrão PÂNICO de qualidade com suas tiradas espertinhas, referências a filmes e muitas mortes. Inclusive parece que andaram bebendo na fonte de JOGOS MORTAIS, carregando um pouco mais no sangue e nas vísceras expostas do que normalmente se vê nos outros filmes da franquia – mas ok, não chega a ser aquilo que críticos como Pablo Villaça convencionaram chamar de pornografia da tortura. Contudo, apresenta falhas como quando claramente levanta suspeitas infundadas sobre um dado personagem só porque ele lembra um dos assassinos do primeiro filme, nunca justificando a aparente antipatia gratuita que ele parece nutrir por Sidney. Ou quando uma personagem não repara em duas vítimas de Ghostface que rigorosamente estariam em seu caminho na volta do mercado ou ainda quando uma outra personagem é desconectada dos aparelhos médicos em um hospital e isso não é detectado pelas enfermeiras.
Entretanto, creio que a principal falha seja que mesmo apresentando uma crítica as continuações intermináveis e desnecessárias de seus congêneres, este PÂNICO 4 não conseguiu exatamente inovar como fez o primeiro 15 anos (!) atrás. É visível que até tenta, incluindo a internet na jogada, mas não foi criativo o bastante para fugir dos próprios clichês que criou para si.

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