Já disse em um outro post que este blog tinha um quê de querido diário, mas nunca explorei essa faceta efetivamente, o que passo a fazer agora. O que segue abaixo é um relato burocrático-emocional desta viagem de boas vindas a Felipe e de celebração aos 90 anos de vida de meu avô.
A quem interessar possa:
Sexta 11-03-2011
Vôo da madrugada com poltronas apertadas e aeromoças de mocidade duvidosa. 'Megamente' no televisor como uma pequena piada comigo. Consegui dormir sentado quase que apelando para estratégias de meditação transcendental. Pousamos 5:35, hora local. O cara da alfândega se espantou com o fato de eu ser advogado. Entramos no aeroporto de noite, saímos no primeiro sol da manhã, o que deixa tudo ainda mais onírico. Tentativas frustradas de ligar para casa pelo número da Embratel. Não por falha no serviço (que é um achado), mas por que o toque não foi ouvido. Liguei para a irmã em São Paulo. A família de cá nos recebeu calorosamente, o pequenino todo se mexendo e emitindo vários sonzinhos (o que me deixou com mais saudade do sobrinho). A priminha está uma simpatia brincando com todo mundo e falando um pouco de cada lingua para agradar a todos! A graciosidade em forma de criança.
Deixamos o primo no escritório e fomos desbravar o primeiro mundo. Fomos a Miami Beach (a casa do Versace sempre me pareceu tão maior nas fotografias), Coconut Grove e ainda conheci a Universidade de Miami e sua biblioteca incrível. Me emocionei (não de chorar, mas de lamentar) ao lembrar de tudo aquilo que a Universidade onde estudei poderia ser e não é (ai de ti, terceiro mundo!). Não conheci a Law School, mas talvez o faça em outro momento. Depois, almoçamos no Tony Roma's (Ramos, segundo meu avô) algo quase viking, passamos no mercado onde um brasileiro me contou do terremoto no Japão e viemos descansar. Acertei no presente para a pequena: As antigas canções de roda brasileiras são irresistíveis para todas as crianças, inclusive as importadas. Salve Galinha Pintadinha, o hit incontestável da viagem.
Sábado 12-03-2011
Hoje acordamos cedo e fomos tomar café no Lighthouse Cafe. Ovos com bacon - quem com porcos anda, farelo come - farelo muito bom, por sinal - a beira da praia . Estava um sol frio, que só ilumina, mas não chega a esquentar. Ideal para tirar fotos históricas, daquelas que ilustrará portas retratos na parede de casa por gerações. Meus avós na praia, a priminha definindo a meiguice com uma florzinha na mão. O farol, imponente como um sentinela gigante - ainda que adormecido. A casa do velho faroleiro remetendo a uma Florida selvagem, e a uma insuportável solidão. Época em que não existia Highways, Miami beach e transatlânticos estacionados no porto. Só o barulho do mar e a preocupação com os malditos índios. Tudo cinematograficamente conservado como um souvenir em tamanho real. Realmente lindo.
Dali, zarpamos para Fort Lauderdale. Rainforest Cafe, o restaurante-floresta-tropical, nos esperava com seus gorilas que se mexiam e elefantes que bramiam. Minivan no aeroporto. Estrada em perfeito estado. St Peter arrebentando no weather. Há uma cortina de chuva no bar, um portão de aquário na entrada e, de trinta em trinta minutos a iluminação e a bicharada simulam uma tempestade tropical. É tudo automatizado, claro, mas impressiona bastante. Dá para se sentir criança, sim, mãe. Queria ter tirado uma foto de minha avó com os gorilas, mas todos esquecemos. Vovô ganhou um Volcano - brownies com sorvete - como uma pré comemoração de seus 90 anos, com direito a fanfarra da garçonzada e tudo. De lá, tentamos fingir ser turistas convencionais e partimos para a Apple Store mais próxima (Galleria Mall) para tentar disputar um Ipad2 no dia de seu lançamento, empreitada que, obviamente, restou frustrada: Ipad2 está sold out. Na volta pela praia, o sol se escondia atrás dos prédios. Iluminação e cenários de cinema. Halle Berry numa mesa próxima a de um amigo do primo num restaurante em Miami Beach quase me fez crer que eu estava, sim, em um filme. Uma passada por lá ficou só na fantasia pois a esta altura já estávamos todos exaustos, mas felizes.
Domingo 13-03-2011
Lembranças para o café da manhã. De Miami para Itaperuna, infância e adolescência em alguns segundos, entrecortados por bagels, tostadas e vitamina de bananas. À tarde, churrasco de espanhol, francês e inglês. Assim foi até pouco depois do Fla-Flu 0x0 em Key Biscayne. Via internet.
Segunda 14-03-2011
Compras, compras e muitas compras. Nosso dia de turistas convencionais maratoneando pelos shoppings de Miami. Dadeland e The falls, sendo o Milk Shake de chocolate do The Rocket altamente recomendável. Sem mencionar sua decoração sooo 50's com trilha sonora de igual calibre. A lenda do Ipad2 disputa com a Galinha Pintadinha o título de hit da viagem.
Terça 15-03-2011
Rodamos Miami procurando o Ipad2. E, ok, passeando também. A estratégia de marketig da Apple é a do desespero falsificado. Explico: Cada loja conta com cerca de 20 vendedores cada. Para a venda do Ipad, são destacados algo como 3 vendedores somente. A cereja do bolo é que cada loja recebe um número limitado de aparelhos por dia. Resultado: Fila, impressão de que as vendas estão batendo recordes e, principalmente, que você vai ser a carta fora do baralho se você não tiver um. Há um certo sinal de discurso ensaiado quando eles dizem que o aparelho está sold out e que, infelizmente, eles não sabem quando chegará mais. Segredo: Invariavelmente no dia seguinte, pela manhã, aparentemente brotam Ipads nas lojas. A sensação de que eles mantém uma quantidade em depósito e só liberam de acordo com a repercussão e a procura, é inevitável. Por fim, paramos na Lincoln Road, Miami Beach. Bombando em plena tarde de terça feira. Almoçamos no italiano Tiramesu, o que é recomendável. Dali, caminhamos um pouco. No meio do burburinho, eis que surge uma igreja comunitária, pálida e deslocada (porém respeitada) como uma noiva virgem numa zona de meretrício. Moças de catálogo passam com a última moda, crianças em carrinho ouvem Ipods, pessoas andam de patins, casais gays passeam com seus filhos. Assim foi a Licoln Road numa tarde fresca e ensolarada. Encerramos na loja da Nespresso. Atração tanto para o paladar como para a visão. O dia encerrou com um por-de-sol alaranjado acariciando Key Biscayne.
Quarta 16-03-2011
Dia da correria. Sou um turista meio às avessas. Óbvio que me interessam os pontos turísticos, as paisagens cinematográficas, as boas compras, mas eu simplesmente adoro vivenciar o dia-a-dia comum do lugar onde visito. Hoje foi o dia das arrumações e logísticas de mudanças. Quantas pessoas que você conhece viajou a outro país e teve que lidar com algo tão prosaico como mudar de casa. Meus familiares daqui (que não são tão daqui assim) moram nas Bahamas e estavam aqui devido ao nascimento do pequenino. Pequenino já com um mês de vida, esbanjando saúde e fofura, passaporte a tira colo (com uma carinha irresistível de what-the-fuck na foto): hora de voltar para casa. E, assim, iremos todos. Ok, que teve o café da manhã no mais que recomendado Ihop (International House of the Pancakes), que realmente vale todas as recomendações, e que teve o peixe frito de almoço perto do farol num cais com um visual de jamais contestar a existência de Deus, mas isso foi nos intervalos, o dia mesmo foi de empacar (empacotar, em espanhol, deduzi) e transportar infindáveis caixas e malas gigantescas. Pode parecer um super programa de índio, mas eu curti. Aprendi que você pode deixar malas no aeroporto de Miami por 2 meses a 8 dólares o dia (no setor apropriado, obviamente), que a ups empacota coisas aparentemente não empacotáveis e como se abastece o carro nos postos self service daqui.
Quinta 17-03-2011
Apple store, Dadeland, 9h da manhã: Fila discreta no interior da loja. Minha tia fica na fila enquanto retorno no carro para buscar o casaco. No caminho, fico me questionando se estou mesmo com frio ou se é TOC (é quase primavera no hemisfério norte, temperaturas amenas - e quase tropicais na Flórida). Não chego a uma conclusão. Quando retorno, minha tia me dá a notícia surreal da temporada: Aparentemente a fila era à toa. Os vendedores (grosseiramente) diziam que estava esgotado, mas os consumidores se recusavam a acreditar. Isso mesmo. Saí dali sem nem querer saber o final da novela e, sim, satisfeito por não ter conseguido um Ipad2. Dali, fui turistar com meus avós no Miami Seaquarium. Fiquei com um misto de ternura e pena dos golfinhos e das baleias adestradas, pensando se eram maltratados. De qualquer forma, viviam num aquário a poucos metros de um mar imensamente azul, o que, sem dúvida, deve significar alguma coisa para eles. Videos da minha avó se divertindo vendo os golfinhos fazendo piruetas e a baleia dando banho nas crianças. Quero guardar estes momentos para sempre.
Eu tenho certeza que era TOC mesmo!rssrsrs...
ResponderExcluir:D por vc! Bjs
ResponderExcluirEm minha defesa, eu devo dizer que parecia que ia demorar e que o apple air conditioner funciona que é uma beleza!
ResponderExcluir"conheci a Universidade de Miami e sua biblioteca incrível. Me emocionei (não de chorar, mas de lamentar) ao lembrar de tudo aquilo que a Universidade onde estudei poderia ser e não é (ai de ti, terceiro mundo!)"
ResponderExcluirTive a mesma sensação quando fui a USP e conheci PARTE do complexo onde fica instalado o curso de física. A faculdade é imensa, a estrutura é impecável e O corpo docente é altamente produtivo. Morri de inveja por não estudar lá e não frequentar um dos seus diversos prédios.
Quero dizer que existem soluções NO BRASIL que encaram o ensino com muito mais seriedade do que ocorre no Rio de Janeiro. Cabe aos governos estaduais e federal deixar de fazer o mínimo para manter funcionando precareamente a máquina da educação.
"Estava um sol frio, que só ilumina, mas não chega a esquentar. Ideal para tirar fotos históricas, daquelas que ilustrará portas retratos na parede de casa por gerações."
Irmão, acho que você exagerou, rsrs. Acho que "em gerações" (uns 30 anos?) vôos para fora da mesosfera serão bastante comuns, viagens intercontinetais serão acessíveis à maioria da população e não existirão mais porta retratos. Acho que "daquelas que ficarão guardadas nos discos holográficos por gerações" é mais provável.
"restaurante-floresta-tropical, nos esperava com seus gorilas que se mexiam e elefantes que bramiam"
Aliás, senti falta das fotografias para ilustrar o post.
"No meio do burburinho, eis que surge uma igreja comunitária, pálida e deslocada (porém respeitada) como uma noiva virgem numa zona de meretrício"
Huhauaha. Tuas imagens mentais quase me preocupam.
"Os vendedores (grosseiramente) diziam que estava esgotado, mas os consumidores se recusavam a acreditar"
Achei natural a grosseiria dos vendedores. O que dizer a centenas de (mesmas) pessoas que insistem em lhe pedir insistentemente algo que você não tem a lhes oferecer? Estranho são aqueles que ficam nas filas. Como disse num outro espaço, a Apple vende uma necessidade que ela mesma criou. Basta ver a cara das pessoas que acabam de comprar o iPad2, parece que realizaram um sonho e se completaram enquanto indivíduos (the american way of consuming).
"Fiquei com um misto de ternura e pena dos golfinhos e das baleias adestradas, pensando se eram maltratados. De qualquer forma, viviam num aquário a poucos metros de um mar imensamente azul, o que, sem dúvida, deve significar alguma coisa para eles"
Já vi um espetáculo de golfinhos na Espanha e visitei (algumas vezes) um dos maiores aquários do mundo em Portugal. São espaços que muito me fascinaram, mas não acredito que os animais sejam maltratados, antes ao contrário. O que me deixa triste é saber justamente que eles estão "a poucos metros de um mar imensamente azul". Que se estivessem "a poucos metros" dali provavelmente seriam serem capazes de melhor explorar suas potencialidades. Mas eles ainda ão de dizer "adeus e obrigado pelos peixes".
Abraços.
Sempre tive vontade de conhecer Miami, ainda mais depois de ver Dexter.Mas Miami só vi do avião e o aeroporto, isso conta? :p
ResponderExcluirTambém senti falta de pelo menos uma foto!
Traz uma caixa de Reese's pra mim? hahaha Tô brincando!