segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Uma ou duas palavras sobre: Xavier Dolan.


Xavier Dolan é canadense, 21 anos, e diretor de dois filmes: EU MATEI MINHA MÃE (2009) e AMORES IMAGINÁRIOS (2010). O terceiro, que segundo a wikipedia contará a história de um transexual, está previsto para estréia em 2012 e tem o título provisório de LAURENCE ANYWAYS.
Dele, assisti primeiro AMORES IMAGINÁRIOS na repescagem do Festival do Rio deste ano e devo dizer que foi uma gratíssima surpresa. Cheguei a ensaiar um texto a respeito, mas acabei não concluindo por razões que ainda me são obscuras, pois o filme possuía méritos inquestionáveis para serem comentados aqui.
Xavier Dolan não só é o diretor destes dois filmes, como escreveu o roteiro e ainda atuou. Logo, não é à toa que vem causando frisson nas mais importantes premiações internacionais. Devo dizer: com a despretensão de um autêntico gênio, o rapaz conseguiu construir obras lindíssimas do ponto de vista visual (o seu apuro estético é algo estarrecedor para alguém de tão pouca idade) com roteiros simples, mas muito bem construídos. Não fala do que não entende. Pelo contrário, o seu filme de estréia, EU MATEI A MINHA MÃE, tem visíveis e confessadas cargas autobiográficas. Homossexual, também não deixa de relatar seus dramas e decepções, entretanto, sem panfletos ou qualquer tipo de apelação ou estereotipação.
EU MATEI A MINHA MÃE conta a história do jovem Hubert, de 17 anos, que vive uma relação para lá de conturbada com a sua mãe, Chantale. Poderia ser um filme banal e ingênuo sobre conflitos de gerações, mas é um competente estudo de personagens. Como não poderia deixar de ser, flerta com a comédia com leveza, mas deixa bem claro que o que busca retratar é o drama da dificuldade de comunicação entre duas pessoas que se amam, mas não sabem conviver com isso (num dos diálogos mais bonitos, após uma discussão, Hubert grita para ela raivoso com lágrimas nos olhos “O que você faria se eu morresse hoje?”, vira as costas e sai. Ela, então, sussurra baixinho sem coragem de dar o braço a torcer quanto a decisão que impôs ao filho, mas reconhecendo para si mesma com os olhos marejados: “Eu morreria no dia seguinte”).
AMORES IMAGINÁRIOS é uma comédia romântica. Narra a história dos amigos Marie (a ótima Monia Chokri) e Francis (Dolan) que tem sua relação abalada quando conhecem Nicolas, belo rapaz pelo qual ambos se apaixonam e passam a disputar a atenção, muitas vezes se sabotando mutuamente. O filme ainda é permeado de uma série de depoimentos aleatórios, mas bem humorados, num tom documental, sobre relacionamentos afetivos (destaque para a menina que lembra a Rossy de Palma, só que adolescente, de óculos e canadense, cujo depoimento abriga alguns dos melhores momentos da projeção – que Dolan a utilize mais vezes!) e possui muitas de suas marcas registradas já muito bem utilizadas no outro filme: câmera lenta em cenas de alguma emotividade extrema, cores fortes, pequenas inserções icônicas um tanto kitsch (pense na imagem de Nicolas, loiro feito um anjo sob uma chuva de Marshmallow brancos num fundo azul neste filme ou na mãe de Hubert fantasiada de santa chorando sangue, no outro) e uma trilha sonora muito peculiar e de excelente qualidade (será que é facilmente encontrável?) – exemplo disso é a versão de “Bang bang (my baby shot me down)” que embala o trailer desta produção.
É evidente que ainda é cedo para fazer previsões sobre o futuro de Xavier Dolan. O sujeito só tem 21 anos e possui somente 2 filmes nas costas (ok, há certa ironia na utilização destes “só” e “somente”), muita coisa ainda pode acontecer, claro, mas a julgar pelo talento e criatividade que o cara mostrou com tão pouca idade e em tão poucas obras, não é difícil prever o que virá por aí. Já na expectativa pelo novo filme do Xavier Dolan.

4 comentários:

  1. Olha o Rodrigo tiéte.
    Eu não li esse não.
    #preguiça

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  2. XAVIER DOLAN É FODA! Só assim poderia começar meu comentário sobre alguém que produz filmes fantásticos, e que ainda me deixa consternado com a dúvida se é melhor sua direção ou atuação.
    Vi "Eu matei minha mãe", e é um filme de emoções. Sim, emoções. Pois a história, em si, não carrega muitos traços de originalidade: é mais uma sobre conflitos entre filhos e mães, algo comum entre adolescentes (e que suponho ainda mais comum quando são adolescentes homossexuais). Mas DOLAN FOI GENIAL ao relatar essa relação de amor e ódio com uma vividez de alma que mal coube em mim: (nesse parênteses tentei enumerar algumas cenas que me comoveram, mas todas as minhas descrições ficaram medíocres em vista do que guarda minha memória. Desculpe).
    São cenas lindas. É uma relação complexa. São diálogos ricos. Tem uma trilha sonora (original?) que se encaixa à medida para as cenas. A atuação dos papéis principais é impecável. E, para alguns momentos, são acrescentadas metáforas visuais quase que poéticas, e que nos tiram o fôlego.

    Assim como acredito que o tempo de vida é medida pelo tempo que passamos em reflexão, ou seja, pelo quanto nossas "ações" não se resumiram a "reações", acredito também que um filme é tão melhor quanto mais competente foi ao nos fazer sentir e viver os momentos que propõe. Nesse sentido, compreendo e reafirmo a ironia de Gabriel pelo "só" e o "somente", pois há muito mais filme em "Eu matei minha mãe", que em muitas dezenas por ai.

    Como foi lindo!

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  3. Eu vi ontem esse filme e gostei tanto!
    Adorei o que tu escreveu também! Parabéns pelo blog :)

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