quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sobre "O pequeno Nicolau"


Li, creio que na crítica d´O Globo sobre o filme, que quando os direitos da história em quadrinhos “O pequeno Nicolau” foram adquiridos pelo diretor, Laurent Tirard, a única condição imposta pelos familiares de René Goscinny (escritor) e Jean-Jacques Sempé (ilustrador) foi a de que fosse feita uma obra-prima. Pelo jeito, Tirard levou a condição bastante a sério.
As aventuras de Nicolas (ou Nicolau, como preferir o freguês), um menino de imaginação fértil o suficiente para acreditar que será abandonado por sua família pelo simples fato de supor que sua mãe está grávida e que decide fazer de tudo para fazê-la mudar de idéia (inclusive se meter nas mais deliciosas confusões), certamente são diversão garantida para todos os públicos uma vez que o filme é uma óbvia homenagem a uma das fases mais mágicas da vida, a infância.
Seja nos sentimentos de nostalgia que provocam nos adultos, seja na forma lúdica e ingênua que provavelmente entretém a criançada de hoje, tão encharcada de internet, videogames e filmes 3D (a história se passa na década de 50), o filme consegue divertir e emocionar de maneira inteligente e leve, sendo daqueles que nos faz sair do cinema com um sorriso na boca e uma lagriminha discreta no canto do olho, satisfeitos com a experiência.
Sempre ensolarado, o filme também abusa das cores numa referência clara aos quadrinhos e desenhos animados. Os enquadramentos, muitas vezes, fixam-se somente na parte inferior dos corpos dos adultos, atendo-se ao “mundo” infantil; A trilha sonora é utilizada sem pudores seja para dar um tom cômico e ágil às cenas de ação ou para brincar com outros universos diegéticos, como na cena que envolve uma busca a um gângster; Algumas cenas de natureza meramente ilustrativas da imaginação infantil tomam forma em sequências impagáveis como a envolvendo o nome de um Rio e um dos personagens em um teste ergométrico. Isto sem mencionar a feliz homenagem a Goscinny, também criador dos lendários Asterix e Obelix, numa sequência em que os pequeninos se inspiram em estratégias dos mesmos para uma de suas aventuras.
É um filme mais focado no universo masculino, mas passa longe do “humor de banheiro” (embora muitas cenas do exame médico sejam impagáveis, mas não por causa deste tipo de humor). Até porque o personagem deve ter entre 6 e 8 anos, faixa etária que a molecada está mais interessada em aprontar e enlouquecer os adultos do que com qualquer outra coisa.
Pessoalmente, considero este um filme marcante porque tenho um imenso carinho pela minha infância e muitas vezes consegui me ver naquele Pequeno Nicolau com sua família imperfeita, mas feliz, seu grupinho de amigos nem sempre corretos e sua meiga professora. Saí do cinema refletindo sobre o quanto também ter tido isso tudo foi tão importante para mim.

Um comentário:

  1. Quando cliquei no link do post, pensei "que imagem será que ele escolheu?"
    Muito espertamente, você colocou um vídeo.
    Porque um filme como esse não dá ilustrar com coisas estáticas. Movimento, agitação, estripulias, sofás rasgados, gatos na centrífuga, um gangster morto, histórias, bicicletas. Isso dignifica!

    Adoramos!

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