sábado, 12 de junho de 2010

'...se eu posso pensar que Deus sou eu"


Eu sempre tive medo de enlouquecer. Por mais que me cause repulsa a normalidade excessiva, confesso que sempre tive medo de entrar em uma outra freqüência e não voltar mais. Por mais que eu perceba que a cada dia entramos numa outra freqüência e que não podemos mais voltar e que, a cada dia, perdemos mais contato com a realidade, eu tenho medo de enlouquecer. Medo bobo. A loucura é saudável. É para as mentes maravilhosas que os corpos de metais pesados não conseguem suportar, mas mesmo assim eu tenho medo de um dia acordar e não ter dúvidas de que eu sou Napoleão em Santa Helena. O meu cotidiano, o meu ponto de ônibus e a minha angústia, os odeio todos, mas são meus. E são tão calmos. Em dado momento, cuido deles como quem cuida de suas lembranças de infância, com carinho e segredo, mas a maior parte do tempo eu não quero rotina, cobiço um carro de marca e um lexotan. E, ainda assim, tenho medo de enlouquecer.

4 comentários:

  1. às vezes a gente fala pelos outros. é quando temos a coragem e a presença certa das palavras para expelir o que muita gente quer dizer.

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  2. @marrrilia me recomendou e eu recomendo a vosotros:
    http://www.tatibernardi.com.br/textos.php?id=370&y=2010&tit=Louca

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  3. E o que me dá mais medo é viver minha lucidez.

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  4. Muito bom o texto, principalmente o trecho "O meu cotidiano, o meu ponto de ônibus e a minha angústia, os odeio todos, mas são meus."

    "I remember when I lost my mind
    There was something so pleasant about that phase."

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