Faz uma semana que assisti o filme. Estava sem inspiração para escrever algo legal, até porque não gostei tanto assim, mas acho que posso fazer uns comentários e aproveitar para pedir que meus eventuais leitores participem mais. Vejo que o blog tem sido bastante visitado e gostaria de saber um pouco das pessoas que vem aqui e o que acham dos posts.
Enfim. “Alice no país das maravilhas, de Tim Burtom” foi minha primeira experiência com cinema 3D. Isso, por si só, já é um fato relevante para entrar para a história. Realmente, é uma inovação e tanto na maneira de assistir cinema. Eu não fazia idéia do quanto. O resultado é uma experiência, para dizer o mínimo, intensa. Dá a impressão de que a história é quase palpável, que se você esticar a mão, é capaz de pegar uma das xícaras da mesa e participar do chá das cinco com o Chapeleiro. Penso, inclusive, que, não demora muito, e desenvolvem uma tecnologia que possibilite o mesmo efeito, só que sem os malditos óculos, mas, enquanto isso não acontece, vale a pena todo incômodo.
Quem me conhece sabe que considero uma ofensa baixar filme ou comprar cópia pirata e assistir antes do filme estrear. Além da questão dos direitos autorais, considero o ritual da sala escura, do telão e (cada vez mais) do somzão uma experiência quase sagrada, mas parece que a grande maioria das pessoas não pensa assim e a indústria cinematográfica veio amargando sérias crises para se adaptar à nova realidade. Desta forma, nada mais natural os caras se preocuparem em transformar a experiência cinematográfica em algo ainda mais singular, em algo que você só terá acesso levantando a bunda da cadeira do computador ou do Home Theater e indo ao cinema. Quanto a baixar filme ou comprar cópia após a estréia, deixemos este debate para um outro momento.
Voltando ao filme, foi extremamente impactado com o efeito visual do 3D, que fui seduzido pela aristocracia inglesa do séc. XIX e pela possibilidade de ver aquelas cenas clássicas de dança em grupo (a personagem chama de quadrilha mesmo, mas, talvez por ignorância, achei uma tradução muito caipira) como algo realmente interessante. Os caras dançavam fora da tela. E isso é MUITO legal. Se o mundo real era daquele jeito, mal podia esperar para sentir o que Wonderland tinha para me oferecer.
Faz muito tempo que vi o desenho animado da Alice. Eu ainda era criança, mas lembro que cheguei a tê-lo como um dos meus desenhos favoritos. Não lembro se era a versão da Disney, mas lembro que fiquei fascinado com aquele mundo mágico que a gente podia crescer e diminuir e que tinha céu mesmo estando debaixo da terra. Também não li o livro (embora bastante tentado a fazê-lo depois deste post do Zeca Camargo), de forma que a história de Alice, para mim, era uma referência distante. Não me lembrava de detalhes da trama, nem dos personagens e, quando li que a história havia sido (bastante) adaptada, resolvi não buscar muitas referências para poder assistir o filme com o máximo de imparcialidade possível, para que eventuais mudanças não fossem vistas como um pecado mortal que acabassem por me incomodar a ponto de eu não conseguir ver a obra nem como uma peça autônoma.
Como já foi dito e redito, o que se vê na tela é a história condensada dos dois livros de Lewis Carrol sobre a personagem: “Alice no país das maravilhas” e “Alice através do espelho”. De forma que, em vez de acompanharmos as aventuras da pequena Alice, a história começa com o incômodo da personagem diante da perspectiva de um noivado arranjado com um desinteressante jovem aristocrata com problemas intestinais. Mia Wasikowska, que havia me deixado absolutamente apaixonado por sua Sophie do seriado “In treatment” (altamente recomendado, aliás) decepcionou-me um pouco. Criou uma Alice um tanto contida e inexpressiva demais, que me incomodou. Talvez fosse mesmo este o efeito que ela e o diretor procuravam sabe-se lá porque razão, mas teve mais de uma cena em que eu tive a nítida sensação de que faltava alguma coisa e que isto estava ligado a atuação dela.
Já Helena Bonham Carter consagra-se a grande estrela do filme com a sua excêntrica e tirana, mas não menos cômica, Rainha Vermelha. Com sua maquiagem carregada e com um efeito especial que aumentava-lhe monstruosamente a cabeça, o brilho de sua atuação chega a ofuscar a própria Alice em alguns momentos, bem como a Rainha Branca, de Anne Hathaway, a perfeita caricatura de qualquer uma das princesas Disney. Não que Hathaway esteja mal, definitivamente não é o caso, mas é evidente que a Rainha Vermelha é um personagem muito mais interessante, e o filme parece não esclarecer se quer trabalhar maniqueísmo ou complexidade, não nos dando elementos sobre para quem deveríamos “torcer” ou com qual das rainhas deveríamos nos identificar, o que creio ser relevante para a trama. Outro destaque são as vozes de Stephen Fry e de Alan Rickman como o Gato e a Lagarta. Precisamente divertidos. Quanto ao Chapeleiro, li que na história original o personagem não tinha tanta relevância quanto teve no filme. É absolutamente incontestável o talento de Johnny Depp para este tipo de personagem, mas concordo com o Pablo Villaça quando ele diz que em certos momentos o personagem faz lembrar uma espécie de filhote assustado de Madonna, Gene Wilder e Elijah Wood, não se justificando inteiramente na história. É simplesmente constrangedora uma certa dança que ele faz em um dado momento do filme.
Visualmente, o filme é um espetáculo sem igual. A Wonderland que nos é apresentada, mesmo que um tanto soturna, é suficientemente rica para deslumbrar, principalmente quando a vemos saltando da tela. Entretanto, confesso que saí do cinema com a sensação de que algo estava faltando. Penso que há grandes chances da culpa ser do roteiro, mas como não lembro muito do original, não posso avaliar. O que posso dizer é que, apesar de em dado momento eu ter olhado para o relógio com alguma impaciência, no geral, foi uma experiência positiva. Talvez o principal problema tenha sido a alta expectativa. Ou filme não é dos melhores mesmo. Acontece.
Ou o filme não é dos melhores mesmo. Já ouvi algo parecido, esses dias. Vou lá ver, e depois te conto, tá? Tenho adorado, realmente, ler você. Não canso de dizer que seu texto tem ritmo, é gostoso de acompanhar. Parabéns, mais uma vez.
ResponderExcluirBeijo
Bom dia, chu.
ResponderExcluirIa me desculpar pela demora na leitura, ia explicar que estou sem internet em casa e blá blá blá, mas acabei de ver que postou domingo. Enfim...
Acompanhei o que escreveu (muito bem, diga-se de passagem) fazendo movimentos de sim e não com a cabeça.
Devo retificar "Lagarta" por "Absolem"... E, sim, ouvir a voz de Snape rs, é de arrepiar a nuca. Principalmente numa lagarta azul.
Pretendo muito ler o livro. Achei uma bela promoção na Saraiva, dos dois inclusive.
Helena Boham Carter roubou a cena, com certeza. Pra ela dou todos os créditos do fime que nada lembra o estilo Tim Burton. Mas tudo bem, ele não precisa ser impecável em tudo que faz.
Sobre Depp, fiquei apaixonada pelo Chapeleiro, nem um pouco a ver com aquele velho chato da Disney. Nunca pensei ser capaz de me encantar por aqueles cabelos crespos laranja e dentes podres. rs Só achei que o pobre coitado do Johnny Depp não conseguiu perder muitos trejeitos do Captain Sparrow. A respeito da dancinha, tb fiquei constrangida à beça. Imaginei que a cena seria numa festa louca, com todos os personagens e a dança seria algo mais "refinado", mas valeu pra quebrar paradigmas "timburtonianos".
Beijos, saudade.
Vamos marcar logo nossa sessão 'Sweeney Todd'!
E como comentário pessoal, devo dizer que vc foi uma péssima companhia para esse filme, mas isso é papo pra depois... ¬¬