Impliquei quando descobri que Hollywood iria fazer uma versão de “Os homens que não amavam as mulheres”, se já existia uma caprichada versão sueca.
Aí hoje relembrei duas coisas:
1- Jamais se deve subestimar a competência de Hollywood quando o assunto é thriller;
2- Por que se contentar com uma versão caprichada se é possível uma versão fantástica?
David Fincher, com todo respeito, dá uma baita aula para os suecos de como fazer um thriller adaptado ser interessante, respeitando a essência, captando a atmosfera, todavia sem soar excessivamente literal.
Sei que corro o risco de soar injusto. Já faz muito tempo que vi o sueco, mas lembro bem de algumas sensações que tive. A primeira foi de surpresa. Conhecia Conheço muito pouco do cinema sueco e ver uma obra daquela qualidade fora de Hollywood foi bem surpreendente. Sim, eu sei que, apesar de sueco o filme segue a cartilha de Hollywood (o que me faz pensar sobre como seria um thriller que não a seguisse, mas eu divago). Sim, eu sei que existe cinema fora de Hollywood. Só o que quero dizer é que o filme me divertiu e acho que, no fim das contas, apesar das “críticas ao sistema” que a obra traz, seu principal objetivo é, sim, divertir. Contudo, a segunda sensação foi a de que faltou ousadia principalmente quanto a questão da excessiva literalidade.
Fincher tem a vantagem de apresentar a segunda versão (que só é vantagem se ele assistiu a original, obviamente). Possivelmente, teve tempo de analisar e apresentar soluções melhores para a adaptação (se você leu o livro e viu os filmes, pense na gritante, porém eficiente mudança no enigma principal, que enxugou e economizou minutos que possivelmente tornariam o final um tanto arrastado), mas isto é só uma hipótese. Fincher já deu mostras de sobra em sua carreira de que não precisa deste tipo de vantagem quando se tem o seu talento.
Quanto a questão Lisbeth Salander e suas intérpretes: Fico com Noomi Rapace. Teve algo nela que me impactou mais do que esta, de Rooney Mara, que também é excepcional, diga-se. Talvez tenha sido porque vi Rapace primeiro, bem próximo a época da leitura do livro, ou porque talvez seja melhor mesmo, mas Mara também é capaz de nuances absolutamente geniais (algo nos desvios do olhar, nos ombros curvados, mesmo quando Lisbeth usa alguns disfarces luxuosos). Também senti falta de uma tatuagem de dragão maior e da Billys Pan Pizza, lanche preferido de Lisbeth, marotamente substituído por Mc Lanches Feliz e afins. Mas é claro que isso não é culpa de Mara.
A fotografia me remeteu a “Se7en” em inúmeros momentos e a produção de arte caprichou nas locações e cenários, muito embora a cabana de Mikael em Hedestad que imaginei (possivelmente seguindo as descrições do livro) não fosse tão clássica como a mostrada neste filme, o que tampouco retira os méritos desta frente de trabalho.
Por fim, “Os homens que não amavam as mulheres” é um filme adaptado de um livro que dispensa sua leitura prévia (que, porém, recomendo seja feita em algum momento) que não deixa nada a dever aos fãs da série e do gênero, com grandes possibilidades de se tornar um clássico, e que já me deixou ansioso para as novas versões de “A menina que brincava com fogo” e “A rainha do castelo de ar”.
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