O pó continua o pó,
a colcha da cama, a colcha da cama.
Um carro passa na rua.
É tudo tão agora.
Tudo é fotografia, inclusive o tempo.
Estamos na velocidade da luz.
Partícula
Onda
Pesada e concreta como o monolito de Kubrick.
Enigmática
Metafísica.
O tudo
O todo
desfora
indentro.
Em lugar nenhum.
Desimporta.
Ressignifica.
É.
Om
etc
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
É. areia.
Eis que o Canal Brasil, premeditada ou auspiciosamente exibe o filme “Casa de Areia” neste primeiro dia do ano de 2013. O filme, de 10 anos atrás, conta a saga das mulheres de uma família que foi morar nas ermas dunas do nordeste brasileiro por volta dos anos 10 do século passado. Fernanda Montenegro e Fernanda Torres interpretam essas mulheres, revezando-se nos papéis de, salvo engano, três gerações de mãe e filha desta família.
É um filme sobre o tempo. Não só sobre o tempo cronológico, mas o tempo emocional, que é aquela mistura de sentimento, memória e cronologia, que faz com que certas mágoas sejam quase eternas e certas paixões durem só uma semana. Por isso achei bastante inusitada a seleção deste filme pelo canal para a data de hoje que, curiosamente pode, ou não, significar alguma coisa, mas que de qualquer forma é um marco de alguma coisa, emocional ou cronológica.
Em um dado momento, a jovem Áurea (Fernanda Torres) ouve de um soldado do exército que vai explorar a região, que os cientistas acreditavam que se houvesse dois irmãos gêmeos e um deles fosse mandado para o espaço, este, quando retornasse, estaria mais jovem. Em um outro momento, vemos a mesma personagem lamentar, após ver uma antiga fotografia sua posando ao lado de um piano, o fato de há muitos anos não ouvir música “de verdade”.
Aí, o final do filme nos entrega esta verdadeira pérola de nossa cinematografia e da atuação da nossa grande dama Fernanda Montenegro. Áurea (já Fernanda Montenegro) recebe a visita de sua filha Maria (também já Fernanda Montenegro) que há muitos anos havia saído do areal. Reparem no olhar ancestral que Fernanda consegue emprestar à matriarca. É algo verdadeiramente deslumbrante.
Um feliz novo ano emocional e/ou cronológico para todos nós!
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
Holy Motors
Quando eu era criança, cheguei a
pensar que as pessoas que apareciam na televisão, viviam dentro dela e que o
tubo de imagem era uma grande lente de aumento para um mundo estranhamente
pequeno e dividido em canais, que a gente mudava girando o seletor. Não saberia
explicar com mais detalhes o mecanismo que minha imaginação infantil concebeu
para entender o fenômeno da televisão, mas lembro que algumas vezes cheguei a investigar
pelas pequenas frestas de ventilação que havia atrás do aparelho, a possibilidade
de pegar algumas daquelas mini-pessoas emprestadas para fazerem companhia a mim
e aos meus bonecos do He-man e da Liga da Justiça nas nossas aventuras.
Outra fantasia infantil, creio
que pouco depois de eu já ter uma certa noção de como as coisas funcionavam na
televisão, era a de achar que a minha vida era um filme, ou até uma novela.
Ficava tentando imaginar as pessoas assistindo a minha vida, o que elas
pensavam, e que nesse universo paralelo eu deveria ser algum ator famoso e que
deveria ser legal passar uns tempos por lá, para dar uns autógrafos, ser
chamado para um programa de entrevistas, essas coisas. É claro que eu devia ter
alguma noção de que era tudo fantasia porque nunca fiquei procurando a câmera,
mas fiquei lembrando desses devaneios infantis quando fui assistir “Holy Motors”
esse fim de semana.
Não, não é um filme fácil se
se considerar a tendência da produção cinematográfica mainstream atual de não
instigar o espectador a sair de sua zona de acomodação e participar da
construção da obra, oferecendo de bandeja respostas e interpretações. No
mínimo, a obra é uma baita oportunidade de aceitar ser desafiado a exercitar
outras instâncias de nós mesmos, que o cinema sempre pode atingir, mas muitas vezes
não o faz ou o faz pouco, creio que por motivos financeiros principalmente. E esta experiência, por
razões humanas, deveriam ser mais acessíveis, mas eu divago, claro.
As cenas iniciais do filme
acompanham um sujeito que dorme aparentemente em um quarto de hotel e que, em
um dado momento, acorda intrigado com algo que aparentemente não suspeita o que
seja até resolver investigar uma das paredes do quarto, decorada com papéis de
parede com motivos florestais. Aí, nos damos conta, junto com ele, de que um de
seus dedos é uma espécie de implante metálico que, na verdade, é uma chave para
uma pequena fechadura oculta nesta parede, que, aberta, leva a um antigo cinema.
O sujeito entra e se depara com um público assistindo a uma película enquanto
uma criança caminha por um dos corredores, esgueirada por um imenso cão negro.
Dali, corta para um magnata
saindo placidamente de sua mansão cinematográfica para o trabalho, de manhã, adentrando
numa limousine e, lá dentro, após alguns telefonemas, aparentemente de
negócios, começa a pentear uma sugestiva peruca de fios prateados. A limousine
para às margens do Sena (o filme se passa na sempre majestosa Paris) e, de lá,
o sujeito sai caracterizado como uma pedinte idosa (de cabelos prateados) e vai
esmolar, salvo engano, na Pont Alexander.
Que tal? Pareceu confuso? Daí em
diante o que vemos é um dia na vida dessa figura trafegando por Paris em sua
limousine, assumindo temporariamente os personagens mais diversos, desde um
senhor idoso à beira da morte, um assassino, e até uma figura grotesca que
circula por esgotos e cemitérios e come dedos de mocinhas desavisadas. Tudo,
claro, filmado com muito(s) estilo(s) e inspiração. Aos poucos, vamos nos dando
conta que provavelmente aquele é o universo das pessoas “que vivem dentro da
tela” e, por isso, me remeteram às minhas aventuras imaginárias da infância. Só
que em uma versão adulta e estilizada, claro.
Entendo que o mote principal do
filme é uma grande homenagem ao cinema, apresentando um elegante mosaico de
personagens e estilos cinematográficos, além de certamente fazer diversas
provocações críticas às diretrizes que a sétima arte vem tomando atualmente,
mas com muita metáfora e poesia (pense na dança erótica das criaturas virtuais).
Existe até espaço para uma alusão a videoclipezação do cinema, com um intervalo
musical no melhor estilo plano sequência a la Beirut e Banda mais bonita da cidade.
Subrepticiamente entendo que o filme
funcione como uma ode ao ofício dos atores. Denis Lavant
revela-se absolutamente genial na construção do Sr. Oscar e de seus tipos, nos
dando alguma dimensão do quão elaborado deve ser o trabalho desses
profissionais na composição de seus personagens. Neste sentido, fica evidente o
quanto a atuação é uma grande obra de arte a depender da inspiração e talento
do artista que a desempenhe.
Ainda, a película também serve, é claro, a belas
reflexões sobre as vidas das pessoas “fora da tela”. Desde questões como o
excesso de “compromissos” da vida moderna até o sentido “da coisa toda”, cada
fotograma abrange uma miríade de possibilidades interpretativas (pense nas
lápides do cemitério de Pére Lachaise com a inusitada inscrição “Visite meu
website” nos epitáfios). E é extremamente inspirador que o camaleônico Sr.
Oscar responda, quando indagado sobre o porquê de levar a frente aquela tarefa
que se revela tão extenuante, que a sua motivação maior é a “beleza do gesto”.
Dá o que pensar, não é verdade?
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Sobre pais e anjos
Roberto Carlos certamente estava
muito inspirado quando escreveu essa canção. Acho que ela toca tão profundamente
porque, de uma maneira geral, todos os pais, em algum momento, falaram de anjos
para os corpos febris de seus filhos. E acho genial a forma dele tratar esse amor
como mentira. Pode ser um paradoxo, mas é poesia. E é lindo.
Isso tudo por que eu queria deixar aqui registrado meu apelo ao amor nesta relação tão sagrada, porém não menos complexa, que é a existente entre pais e filhos. Neste dia que marca os 7 anos da morte de meu saudosíssimo pai posso dizer que ele ainda é o meu maior e melhor amigo e que, felizmente, eu sempre soube disso de alguma forma. Eu sei que nem todo mundo tem/teve uma boa relação com o seu, então fica o convite para ressignificá-la, ao menos para você.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Imagine só
P. S.: "Só a alma atormentada pode trazer para a voz um formato de pássaro. Arte não tem pensa: O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo. Isso seja: Deus deu a forma. Os artistas desformam. É preciso desformar o mundo: Tirar da natureza as naturalidades".
[Manoel de Barros salve salve]
[Manoel de Barros salve salve]
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Pistas sobre mim
Eu não tenho noção de nada. Eu só sei das coisas que eu
penso, mas mesmo assim, muito pouco. Às vezes parece que tudo é eco, não há
nada definido, nem definitivo. Das pessoas e das coisas, então, a única
referência que eu tenho é que ensaiam engatilhar processos dentro de mim. Só
que com meus próprios códigos, com meus próprios signos. De tão improvável, é
mais plausível que a comunicação seja impossível. É isso. Sou egoísta. Sou auto
centrado. Busco somente me sentir bem. Sou um hedonista, meu bem. E quem não é,
nestas circunstâncias? Não conheço ninguém em sã consciência que deseje o
próprio azar. Até para o masoquista, dor é prazer.
Mas são só suposições. Pode ser que tudo não passe de uma
grande humildade em se enxergar. Talvez eu seja mesmo um anjo caído injustiçado
por Deus que, na verdade, morre de inveja de mim. Pode ser que, na verdade, eu
tenha total consciência do que acontece comigo, dos automatismos viscerais aos
ciclos cósmicos dos meus corpos astrais, passando por todos os sentimentos,
emoções e sensações, devidamente catalogados e classificados taxonomicamente,
que eu sei reconhecer, gerenciar e manipular, e que eu saiba objetivamente a
solução para tudo e para todos, conciliando o meu bem com o bem comum.
Mas, quem pode me garantir? Quem pode me desdizer?
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Pacificação
Quer acabar com a violência? Pois comece em você mesmo.
Reduza as ambições.
Controle seus ódios.
Apague seus ressentimentos.
Cultive honestidade.
Fale a verdade.
Faça o maior bem que puder.
Apague as lágrimas dos que choram.
Ampare os que estão sofrendo.
Perdoe aqueles que, por ignorância e inferioridade, o feriram.
Reduza suas tensões.
Alegre-se com a felicidade dos outros.
Pense no bem dos outros antes de pensar no seu.
Que meu coração em Paz propicie Paz a todos.
Professor Hermógenes (Livro Deus investe em você, página 86.)
Reduza as ambições.
Controle seus ódios.
Apague seus ressentimentos.
Cultive honestidade.
Fale a verdade.
Faça o maior bem que puder.
Apague as lágrimas dos que choram.
Ampare os que estão sofrendo.
Perdoe aqueles que, por ignorância e inferioridade, o feriram.
Reduza suas tensões.
Alegre-se com a felicidade dos outros.
Pense no bem dos outros antes de pensar no seu.
Que meu coração em Paz propicie Paz a todos.
Professor Hermógenes (Livro Deus investe em você, página 86.)
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