Eu não tenho noção de nada. Eu só sei das coisas que eu
penso, mas mesmo assim, muito pouco. Às vezes parece que tudo é eco, não há
nada definido, nem definitivo. Das pessoas e das coisas, então, a única
referência que eu tenho é que ensaiam engatilhar processos dentro de mim. Só
que com meus próprios códigos, com meus próprios signos. De tão improvável, é
mais plausível que a comunicação seja impossível. É isso. Sou egoísta. Sou auto
centrado. Busco somente me sentir bem. Sou um hedonista, meu bem. E quem não é,
nestas circunstâncias? Não conheço ninguém em sã consciência que deseje o
próprio azar. Até para o masoquista, dor é prazer.
Mas são só suposições. Pode ser que tudo não passe de uma
grande humildade em se enxergar. Talvez eu seja mesmo um anjo caído injustiçado
por Deus que, na verdade, morre de inveja de mim. Pode ser que, na verdade, eu
tenha total consciência do que acontece comigo, dos automatismos viscerais aos
ciclos cósmicos dos meus corpos astrais, passando por todos os sentimentos,
emoções e sensações, devidamente catalogados e classificados taxonomicamente,
que eu sei reconhecer, gerenciar e manipular, e que eu saiba objetivamente a
solução para tudo e para todos, conciliando o meu bem com o bem comum.
Mas, quem pode me garantir? Quem pode me desdizer?