domingo, 28 de fevereiro de 2010

Viva la vida!


Sou da opinião de que é um direito humano fundamental assistir, pelo menos uma vez na vida, um grande show de uma mega banda internacional. Ok, é exagero. Talvez nem tanto. A questão é que é sempre uma experiência espiritual ver bons shows com boas músicas e recursos cada vez mais inovadores de concepção gráfica e iluminação, como os oferecidos pelas bandas gringas.
O melhor show que eu vi na vida foi o Radiohead na praça da Apoteose, no ano passado. O que era aquela iluminação? As câmeras espalhadas em pontos estratégicos do palco captando as imagens de cada integrante da banda? O que eram aquelas cores? E principalmente, o que foi aquela experiência de ouvir aquelas músicas naquele ambiente? Zeca Camargo explica, aqui, com muito melhor precisão do que eu, o que foi a experiência daquela noite. Eu, que, confesso, fui ao show muito mais movido à reunião extraordinária dos Los Hermanos, neste seu longo e aparentemente sem fim “hiato sem tempo definido”, saí embasbacado e regiamente recompensado, a ponto de “In rainbows”, o último trabalho dos radiocabeças, ser, até hoje, um dos que mais tocam no meu Ipod. E eu não canso de ouvir.
Pois bem, quase um ano depois, naquele mesmo local, esta foi a noite de outra banda, que igualmente tem um lugar especial na minha playlist. Coldplay. Também tinha uma expectativa de ver como seria uma apresentação do Vanguart para um grande público, mas dessa vez não fui tão mané e fui ao show pela banda principal, mesmo. Inclusive, lamentavelmente não consegui assistir a breve apresentação do grupo de folk rock cuiabano, de que tanto gosto, a uma porque, pelos meus cálculos, deve ter durado em torno de 30 minutos, e a duas devido a atrasos com o grupo de amigos que fui, mas não tem tanto problema assim porque ainda está fresco na memória e no coração o último show deles aqui no Rio no Teatro Odisséia, com o meu chapa Daniel Velloso.
Estava chuviscando, ambulantes em profusão vendiam capas de chuva de plástico a R$ 3,00(de onde eles surgem com estes artefatos em pleno domingo??). Entramos exatamente no momento em que começou a apresentação do Bat for lashes, que me impressionou mais em casa com este clipe, antes do show, nas minhas pesquisas sobre a banda, do que com a fraca apresentação ao vivo. Apesar do clima instigante de “Brumas de Avalon” (pode ser viagem minha a comparação, mas é porque comecei o primeiro livro da série e estou empolgado) que o fundo do palco sugeria, confesso que tentei forçar uma barra para curtir a apresentação, mas o que ficou foi a impressão de que se tratava de uma banda boa, mas para se ouvir em casa ou para ver clipes no youtube, mas isto também pode ser problema do som baixo, que, inclusive, se verificou também no show da grande estrela da noite.
O começo foi retumbante com uma valsa crescendo nos alto falantes, a galera acompanhando na palma da mão o compasso da música e as luzes se apagando para que os balões luminosos afixados nas laterais fossem se acendendo aos poucos. Daí, o que se viu, se não me falha a memória, foi um trecho de “Life in Technicolor” misturados com imagens do mundo até localizar o Rio de Janeiro, para logo em seguida entrar “Violet Hill” tendo ao fundo a imponente pintura de Delacroix sobre a liberdade, que ilustra a capa do último álbum deles (“Viva la vida or death and all his friends”), para, então, os hits “Clocks”,“Yellow” e “In my place”, arrebatarem de vez a platéia, muito embora, o problema do volume tenha atrapalhado devastadoramente o piano poderoso de Chris Martin em “Clocks”.
Porém, era tudo festa tanto para a platéia, tanto para Chris. Não posso afirmar, mas suspeito ter ouvido o cara dizer que certamente éramos um público melhor do que o de São Paulo porque nós temos o carnaval (deixa só os nossos amigos banhados pelo Tietê saberem disso). A verdade é que ele parecia cansado. Algumas vezes usou o velho truque de deixar a platéia cantar (coisa que a mesma fez de muito bom grado e a plenos pulmões), outras, inclusive, se jogou no chão para logo em seguida levantar de maneira dramática, certamente ensaiada, para emendar algum outro sucesso. “Shiver”, por exemplo, causou comoção - e merecida.
Digam o que quiserem, mas Chris Martin, além de talentoso (na minha modesta opinião), é carismático e um autêntico showman. Performático, sabe ocupar seu grande palco com uma energia rara, sendo um dos personagens principais do espetáculo de luzes, cores e sons que o Coldplay constrói. E vale dizer que o grupo se sai bem tanto na pirotecnia quanto nos momentos intimistas, como naqueles em que ocupam pequenos palcos nas laterais da pista, com alguns violões e muita simpatia fazendo a loucura dos plebeus que não financiaram a malfadada pista VIP. Vale o registro que eles foram as estrelas internacionais que vi mais de perto até agora, graças a este momento. Mas vamos parar de tietar...
Confesso que, até então, não fui grande entusiasta do último trabalho deles, mas após este show - não sei definir bem o porquê- a minha visão e meu sentimento em relação a obra mudaram completamente. Talvez porque sempre gosto de ver o show quase que como uma obra autônoma, sempre tento entender o que queriam que eu sentisse ao assistir. E percebi que, neste caso, queriam que eu me sentisse feliz. Até fogos de artifício teve.
Lá pelas tantas, a banda toca “Lovers in Japan”. O telão exibe uma de suas melhores vinhetas para acompanhar a música e os efeitos de luz estão indefectíveis. Eis que, no ponto alto da música, canhões disparam sobre a platéia milhares, talvez milhões de borboletas de papel coloridas das mais diversas cores. Dentro da minha cabeça, uma voz me sussurra: Olhe para cima. Olho e me emociono. Um chuva de papéis coloridos enfeitam a noite nublada da Apoteose.
O bis contou com “The scientist”, que eu jamais os perdoaria se eles não tocassem, e “Life in technicolor II” como que fechando o ciclo. Além das borboletas coloridas, ao final, me chamou a atenção as cores vivas da inscrição “viva” no telão (que não é a que ilustra este post). Como uma convicta comemoração ou, talvez, recomendação no melhor espírito carpe diem.
Para mim, o show poderia ter acabado no momento da chuva de borboletas coloridas. Eu sei dos inúmeros interesses comerciais em jogo. Senti-os no bolso, inclusive, pelo preço que paguei no ingresso, mas me comoveu a idéia de que alguém quis que eu me sentisse mais ou menos daquela forma naquele momento.
Podem me chamar de ingênuo, talvez eu seja mesmo, mas eu realmente gostei da idéia de alguém desejar que numa noite chuvosa no Rio de Janeiro, a chuva fosse colorida e ao som de Coldplay.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

paranoid android


Muita gente se perguntou porque Marvin, o robô maníaco-depressivo da série “O guia dos mochileiro das galáxias”, era o meu avatar no Orkut. Alguns preocupados com a minha saúde mental, outros simplesmente acharam que eu era fã da série, outros nem sequer sabiam que diabos era aquele robô e muito menos porque eu escolhi ele pra me representar.

Não, apesar de não parecer, não sou maníaco-depressivo e não posso dizer que sou fã da série porque só vi o primeiro (e único?) filme e não li nenhum dos livros. Mesmo assim o Marvin é um dos meus personagens preferidos. Não só pelo inusitado de ser um robô dotado de senso de humor, mas mais ainda por ser um robô dotado de um transtorno de humor. Na verdade, tenho para mim que Marvin é mais um sarcástico do que qualquer outra coisa, mas isso não vem ao caso agora.

A questão é que escolhi o Marvin meio que como uma forma de piada sobre mim mesmo além de uma forma de protesto, e como a melhor forma de se fazer um protesto é, primeiramente, se fazer entendido, resolvi escrever este texto para que esta piada literalmente interna possa ser compartilhada com mais alguém além de mim mesmo.

Como alguns sabem, almejo uma carreira pública na área jurídica. Mais especificamente, desejo tornar-me defensor público e, para tanto, necessito, entre outras coisas, ser aprovado em um concurso público de provas e títulos. O detalhes é que é um dos concursos mais concorridos do país, o que exige de mim a necessidade de empenho de um estudante - para usar uma expressão execrável do meio empresarial- “de alta performance”.

Nesta expressão execrável é que está a chave para entender minhas razões. A idéia de algo de alta performance me remete a um tipo de hardware ou de software, um processador, ou algo do gênero, nunca a uma pessoa (seja estudante ou profissional).

Sem mencionar que o que nos é exigido nestes concursos não é somente que sejamos performáticos em nossa preparação, mas principalmente, que saibamos repetir a imensa cartilha do trinômio lei-dourina-e-jurisprudência praticamente literalmente e sem gaguejar. Como um robô programado para executar somente aquilo que se espera dele. Daí, acho que a piada-protesto cabe perfeitamente.

É óbvio que quando escolhi esta carreira para mim, eu sabia tudo o que vinha no pacote e até compreendo que não tem como ser diferente e, sinceramente, aceito a condição, o que não quer dizer que, além disso tudo, eu ainda tenho que estar feliz com ela. Por isso o protesto.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Porque é carnaval?

Vendo este vídeo do Tas, exercitei meu olhar de estranheza. De repente o carnaval nunca me pareceu tão non sense. A figura emblemática deste baixinho careca de óculos perguntando histericamente em meio a pessoas ainda mais histéricas o porquê de tudo aquilo, me levou imediatamente a questionar algo tão corriqueiro que nunca tinha questionado antes: Por que é carnaval? Por que carnaval existe? Por que mulatas de bunda de fora ao som de baterias ensurdecedoras? É pra comemorar? Comemorar o que mesmo? Aniversário de alguém?
Não satisfeito com a cara de surpresa que as pessoas faziam à sua pergunta, (“Como assim porque é carnaval!!!??? Que que esse cara ta falando??” Dava para ver isso escrito na cara delas) Tas ainda força a barra: Por que o carnaval cai no carnaval?
Aí, pronto, passou por doido varrido.
Logo após, ele vem explicando que o Carnaval é uma festa com data determinada pela Igreja Católica. Mas como assim a “festa da carne” tem data determinada pela Igreja Católica? A Santa Igreja não é uma Instituição preocupada com a espiritualização das pessoas?
Na verdade, explica ele, a data de Carnaval é determinada pela data do domingo de Páscoa, que, por sua vez, deve ser o primeiro domingo após a primeira lua cheia depois do equinócio de primavera no hemisfério norte. Desta forma, os quarenta dias antes do domingo de páscoa devem ser de resguardo e preservação, o que faz do Carnaval, nas palavras do Tas, uma espécie de “despedida de solteiro” para os dias puros e castos que devem se seguir.
Mas alguém sabia disso? Alguém pula carnaval pensando na quaresma? Alguém sabe o que é quaresma? Ou será que simplesmente todo mundo pula carnaval porque todo mundo pula carnaval?